domingo, 18 de outubro de 2015

A Teoria Magnética E Do Meio Ambiente


Resta-nos examinar duas objeções: as únicas que realmente merecem esse nome porque se apóiam em teorias racionais. Uma e outra admitem a realidade de todos os fenômenos materiais e morais, mas excluem a intervenção dos Espíritos.
Para a primeira dessas teorias, todas as manifestações atribuídas aos Espíritos seriam apenas efeitos magnéticos. Os médiuns ficariam num estado que se poderia chamar de sonambulismo acordado, fenômeno conhecido de todos os que estudaram o magnetismo. Nesse estado, as faculdades intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal, os círculos da percepção intuitiva se ampliam além dos limites de nossa percepção ordinária. Dessa maneira o médium tiraria de si mesmo e por efeito de sua lucidez tudo quanto diz e todas as noções que transmite, mesmo sobre as coisas que lhe sejam mais estranhas no estado normal.
Não seremos nós quem contestará o poder do sonambulismo, cujos prodígios presenciamos, estudando-lhe todas as facetas durante mais de trinta e cinco anos. Concordamos que, de fato, muitas manifestações espíritas podem ser explicadas por esse meio. Mas uma observação prolongada e atenta mostra uma multidão de fatos em que a participação do médium, a não ser como um instrumento passivo, é materialmente impossível. Aos que participam desta opinião, diremos como já dissemos aos outros: “Vede e observai, porque seguramente ainda não vistes tudo”.
E a seguir lhes apresentaremos duas considerações tiradas de sua própria doutrina. De onde veio a teoria espírita? É um sistema imaginado por alguns homens para explicar os fatos? De maneira alguma. Mas, então, quem a revelou? Precisamente esses médiuns de que exaltais a lucidez. Se, portanto, essa lucidez é tal como a supondes, por que teriam eles atribuído aos Espíritos aquilo que teriam tirado de si mesmos? Como teriam dado esses ensinamentos tão precisos, tão lógicos, tão sublimes sobre a natureza das inteligências extra-humanas? De duas, uma: ou eles são lúcidos ou não são. Se o são e se podemos confiar na sua veracidade, não se poderia admitir sem contradição que não estejam com verdade. Em segundo lugar, se todos os fenômenos provêm do médium, deviam ser idênticos para um mesmo indivíduo e não se veria a mesma pessoa falar linguagens diferentes, nem exprimir alternadamente as coisas mais contraditórias. Essa falta de unidade nas manifestações de um mesmo médium prova a diversidade das fontes. Se, pois, não podemos encontrá-las todas no médium, é necessário procurá-las fora dele.
Segundo a outra teoria, o médium é ainda a fonte das manifestações, mas, em vez de tirá-las de si mesmo, tira-as do meio ambiente. O médium seria uma espécie de espelho refletindo todas as idéias, todos os pensamentos e todos os conhecimentos das pessoas que o cercam; nada diria que não fosse conhecido pelo menos de algumas delas. Não se poderia negar, e vai mesmo nisto um princípio da doutrina, a influência exercida pêlos assistentes sobre a natureza das manifestações. Mas essa influência é bem diversa do que se pretende e, entre ela e a que faria do médium um eco dos pensamentos alheios, há grande distância, pois milhares de fatos demonstram peremptoriamente o contrário. Há, portanto, um erro grave nessa teoria, que mais uma vez prova o perigo das conclusões prematuras. Essas pessoas, incapazes de negar a existência de um fenômeno que a ciência comum não consegue explicar, e não querendo admitir a intervenção dos Espíritos, explicam-no a seu modo. A teoria que sustentam seria sedutora, se pudesse abarcar todos os fatos, mas assim não acontece. E quando se demonstra, até à evidência, que algumas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos, às próprias opiniões de todos os presentes, e que essas comunicações são muitas vezes espontâneas e contradizem as idéias preconcebidas, elas não se entregam por tão pouco. A irradiação, respondem, amplia-se muito além do círculo imediato que nos cerca; o médium é o reflexo de toda a Humanidade e dessa maneira, se não encontra as inspirações ao seu redor, vai procurá-las fora, na cidade, no país, no mundo inteiro e até mesmo em outras esferas.
Não creio que esta teoria encerre uma explicação mais simples e mais provável que a do Espiritismo, pois supõe uma causa bem mais maravilhosa. A idéia de que seres do espaço, em contacto permanente conosco, nos comuniquem os seus pensamentos, nada tem que choque mais a razão do que a suposição dessas irradiações universais, vindas de todos os pontos do Universo para se concentrarem no cérebro de um indivíduo.
Diremos ainda uma vez — e este é o ponto capital, sobre o qual nunca será demais insistir, — que a teoria sonambúlica e a que se poderia chamar reflectiva foram imaginadas por alguns homens; são opiniões individuais, formuladas para explicar um fato, enquanto a doutrina dos Espíritos não é uma concepção humana; foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestam, quando ninguém a imaginava e a opinião geral até mesmo a repelia. Ora, perguntamos, onde os médiuns foram buscar uma doutrina que não existia no pensamento de ninguém sobre a Terra? Perguntamos ainda por que estranha coincidência milhares de médiuns, espalhados por todas as partes do globo, sem nunca se terem visto, concordaram em dizer a mesma coisa? Se o primeiro médium que apareceu na França sofreu a influência de opiniões já aceitas na América, por que estranha razão foi ele buscar as suas idéias a duas mil léguas além-mar, no seio de um povo estranho por seus costumes e sua língua, em vez de tomar o que estava ao seu redor?
Mas há ainda uma circunstância em que não se pensou bastante. As primeiras manifestações, em França como na América, não se verificaram nem pela escrita, nem pela palavra, mas através de pancadas correspondentes às letras do alfabeto, formando palavras e frases. Foi por esse meio que as inteligências manifestantes declararam ser Espíritos. Se, portanto, pudéssemos suporá intervenção do pensamento do médium nas comunicações verbais ou escritas, o mesmo não se poderia fazer com relação às pancadas, cuja significação não poderia ser conhecida previamente.
Poderíamos citar numerosos fatos que demonstram na inteligência manifestante uma individualidade evidente e uma absoluta independência de vontade. Enviaremos, portanto, os nossos contraditores a uma observação mais atenta, e se eles quiserem estudar bem, sem prevenções, nada concluindo antes de terem visto o necessário, reconhecerão a importância de suas teorias para explicar todos os fatos. Limitar-nos-emos a propor as seguintes questões: Por que a inteligência que se manifesta, qualquer que seja, recusa-se a responder a algumas perguntas sobre assuntos perfeitamente conhecidos, como, por exemplo, o nome e a idade do interrogante, o que ele traz na mão, o que fez na véspera, o que pretende fazer amanhã e assim por diante? Se o médium é o espelho dos pensamentos dos presentes, nada lhe seria mais fácil de responder.
Os adversários respondem a esse argumento perguntando, por sua vez, por que os Espíritos, que tudo devem saber, não podem dizer coisas tão simples, segundo o axioma: “Quem pode o mais, pode o menos”. E disso concluem que não se trata de Espíritos. Se um ignorante ou um brincalhão, apresentando-se perante uma douta assembléia, perguntasse, por exemplo, por que se faz dia pleno ao meio-dia, seria crível que ela se desse ao trabalho de responder seriamente e seria lógico concluir, do seu silêncio ou das zombarias que dirigisse ao interpelante, que seus membros eram tolos? Ora, é precisamente por serem superiores que os Espíritos não respondem a perguntas ociosas ou ridículas, não querem entrar na berlinda; é por isso que eles se calam ou dizem que só se ocupam de coisas mais sérias.
Perguntaremos, afinal, por que os Espíritos vêm e vão, muitas vezes, num dado momento, e por que, passando esse momento, não há nem preces nem súplicas que os façam voltar? Se o médium não agisse senão pela impulsão mental dos assistentes, é claro que, nessa circunstância, o concurso de todas as vontades reunidas deveria estimular a sua clarividência. Se, entretanto, ele não cede aos desejos da assembléia, apoiado pela sua própria vontade, é porque obedece a uma influência estranha, tanto a ele quanto aos demais, e essa influência demonstra com isso a sua independência e a sua individualidade.

SEMATOLOGIA E TIPTOLOGIA

LINGUAGEM DOS SINAIS E DAS PANCADAS
TIPTOLOGIA ALFABÉTICA
139. As primeiras manifestações inteligentes foram obtidas por meio de pancadas ou tiptologia. Esse meio primitivo, que se ressentia das condições iniciais da arte, só oferecia recursos muito limitados. As comunicações por esse meio reduziam-se às respostas monossilábicas por sim ou por não; através de um número convencionado de golpes. Mais tarde, como dissemos, foi aperfeiçoado. Os golpes são produzidos de duas maneiras, por médiuns especiais. É necessário, geralmente, para essa forma de operar, certa aptidão para as manifestações físicas.
A primeira, que se poderia chamar tiptologia basculante, consiste no movimento do mês que se eleva de um lado e cai batendo um pé. Basta, para isso, que o médium pouse as mãos na borda da mesa. Se ele quiser conversar com determinado Espírito, é necessário fazer a evocação. Caso contrário, manifesta-se o que chegar primeiro ou o que estiver habituado a fazê-lo. Convencionando-se, por exemplo, um golpe para o sim e dois para o não, o que é indiferente, dirigem-se as perguntas ao Espírito. Veremos depois quais as que devem ser evitadas. O inconveniente está na brevidade das respostas e na dificuldade de formular a pergunta de maneira a permitir a resposta de sim ou não. Suponhamos que se pergunte ao Espírito: Que desejas? Ele só poderia responder com uma frase. Temos então de perguntar. Desejas isto? – Não. – Aquilo? – Sim. E assim por diante.
140. É curioso que ao se empregar esse meio o Espírito costuma acrescentar-lhe uma espécie de mímica, exprimindo a energia da afirmação ou da negação pela força dos golpes. Exprime ainda a natureza dos seus sentimentos: a violência, por movimentos bruscos; a cólera e a impaciência, dando fortes pancadas repetidas, como alguém que batesse os pés com raiva, às vezes jogando a mesa no chão. Se for um Espírito bondoso e delicado, no começo e no fim da sessão inclina a mesa em forma de saudação. Se quiser dirigir-se diretamente a uma das pessoas presentes, leva a mesa até ela com suavidade ou violência, conforme queira lhe testemunhar afeição ou antipatia. É essa, propriamente falando, a sematologia ou linguagem dos sinais, como a tiptologia é a linguagem das pancadas.
Eis um notável exemplo do emprego espontâneo da sematologia:
Um senhor nosso conhecido estava um dia na sua sala de visitas, onde muitas pessoas se ocupavam de manifestações, quando recebeu uma carta nossa. Enquanto a lia, a mesinha de sala, de três pés, que servia para as experiências(1)dirigiu-se subitamente para ele. Finda a leitura da carta ele a foi colocar numa mesa da outra extremidade da sala. A mesinha o seguiu e se dirigiu para a mesa em que a carta fora depositada. Surpreso com a coincidência, ele pensou em alguma relação entre esse movimento e a carta. Interrogou o Espírito, que respondeu dizendo ser um nosso Espírito familiar. Tendo o senhor nos informado do que se passara, interpelamos o Espírito sobre o motivo da visita que lhe fizera. Respondeu: “É natural que eu visite as pessoas com as quais estás em relação, para poder, quando for o caso, dar a ti e a elas os avisos necessários”.
141. A tiptologia não demorou a se aperfeiçoar e se enriquecer com uma forma de comunicação mais completa, a da tiptologia alfabética, que consiste em fazer indicar as letras por meio de pancadas. Foi então possível obter palavras, frases e mesmo discursos inteiros. Segundo o método adotado, a mesa bate as pancadas correspondentes a cada letra, ou seja: uma pancada para a, duas para b e assim por diante, enquanto alguém vai registrando as letras indicadas. Chegando ao fim, o Espírito adverte por meio de sinal convencionado.
Esse procedimento, como se vê, é muito demorado e demanda longo tempo para as comunicações de maior extensão. Não obstante, houve quem tivesse paciência de usá-lo para obter ditados de numerosas páginas. Mas a prática levou à descoberta de meios mais rápidos. O mais em uso consiste no emprego de alfabeto e uma série de números, que uma pessoa percorre apontando enquanto o médium movimenta a mesa. Esta indica por uma pancada a letra ou o número necessário, que são anotados. Se houver engano, o Espírito adverte por vários golpes ou movimentos da mesa e então se recomeça. Com o hábito, faz-se isso com rapidez. Mas consegue-se abreviar mais adivinhando a palavra iniciada, o que o sentido da frase auxilia. Em caso de dúvida consulta-se o Espírito, que responde por sim ou não.
142. Todos esses efeitos podem ser obtidos de maneira ainda mais simples pelos golpes dados no interior da madeira da mesa, sem qualquer movimento exterior, conforme relatamos no capítulo sobre manifestações físicas, nº 64: é a tiptologia interna(2) Nem todos os médiuns são igualmente aptos para essa última forma de comunicação, havendo os que só obtém as pancadas da mesa basculante. Entretanto, com o exercício,a maioria pode consegui-lo. Essa forma tem a dupla vantagem de ser mais rápida e prestar-se menos à suspeição do que a basculante, que se pode atribuir a pressões voluntárias. É verdade que os golpes internos poderiam também ser limitados por médiuns de má fé. As melhores coisas estão sujeitas à imitação. O que nada prova contra elas. (Ver no fim do volume, o capítulo intitulado: Fraudes e Superstições).
Quaisquer que sejam os aperfeiçoamentos que se possam introduzir nesse sistema, ele jamais pode atingir a rapidez e a facilidade da escrita, pelo que é hoje pouco usado. Não obstante, às vezes interessa quanto ao aspecto fenomênico, principalmente para os novatos e tem sobretudo a vantagem de provar, de maneira peremptória,a absoluta independência do pensamento do médium. Freqüentemente se obtêm, com ele, respostas tão imprevistas, tão surpreendentemente certas, que seria preciso muita prevenção para se recusar à evidência. Assim ele oferece, para muitas pessoas, poderoso motivo de convicção. Mas por esse meio, ainda mais que pelos outros, os Espíritos não gostam de submeter-se ao capricho de curiosos que desejam pô-los à prova com perguntas fora de propósito.
143. Com o fim de melhor assegurar a independência do pensamento do médium, imaginaram-se diversos instrumentos como quadrantes com letras, à maneira dos usados nos telégrafos elétricos. Uma agulha móvel que se movimenta sob a influência do médium, com a ajuda de um fio condutor e uma polia; indica as letras.
Só conhecemos esses instrumentos por desenhos e descrições publicados na América. Não podemos, pois, dizer do seu valor. Mas nos parece que a sua própria complicação é um inconveniente.
Achamos que a independência do médium é perfeitamente provada pelos golpes internos e mais ainda pelo imprevisto das respostas do que todos os meios materiais. Por outro lado, os incrédulos que estão sempre dispostos a ver por toda parte cordéis e arranjos, desconfiarão muito mais de um mecanismo especial do que de uma mesinha desprovida de qualquer acessório.
144. Um aparelho mais simples, mas do qual a má fé pode facilmente abusar, como se verá no capítulo referente às fraudes, é o que designaremos pelo nome de Mesa-Girardin, em lembrança do uso que dele fazia madame Emílio de Girardin, nas numerosas comunicações que obtinha como médium. Porque madame de Girardin, embora fosse mulher de espírito, tinha a fraqueza de acreditar nos Espíritos e nas suas manifestações.
O instrumento consiste numa tábua redonda de mesinha de salão, de quarenta centímetros de diâmetro, girando livre e facilmente em torno de um eixo, à maneia da roleta. Na superfície e em circunferência ao gravados as letras, os números e as palavras sim e não. No centro há uma agulha fixa. O médium põe os dedo na borda da tábua redonda, que gira e pára a letra desejada sob a agulha. As letras são anotadas, formando palavras e frases rapidamente.
Deve-se notar que a tábua redonda não desliza sob os dedos pois estes se afirmam na borda da tábua e acompanham o seu movimento. É possível que um médium poderoso consiga produzir o movimento independente, mas nunca o presenciamos. Se a experiência pudesse ser feita dessa maneira seria infinitamente mais concludente, porque afastaria toda possibilidade de embuste.
145. Resta-nos desfazer um erro muito divulgado, que consiste em confundir todos os Espíritos que se comunicam por pancadas com os Espíritos batedores. A tiptologia é um meio de comunicação como qualquer outro, não sendo mais indigno dos Espíritos elevados que a escrita e a palavra. Todos os Espíritos, bons ou maus, podem servir-se dele como dos demais. O que caracteriza os Espíritos superiores é a elevação do pensamento e não o instrumento de que se servem para transmiti-lo. Sem dúvida eles preferem os meios mais cômodos e rápidos, mas, na falta de lápis e papel não terão escrúpulos em servir-se da vulgar mesa-falante. A prova é que se obtêm por esse meio as comunicações mais sublimes. Se não nos servimos dele não é por desprezá-lo, mas somente porque, como fenômeno, já nos ensinou tudo quanto poderíamos saber, nada mais podendo acrescentar às nossas convicções, sendo ainda que a extensão das comunicações que recebemos exige uma rapidez que a tiptologia não oferece.
Todos os Espíritos que se comunicam por pancadas não são pois, Espíritos batedores. Essa designação deve ser reservada para os que se pode chamar de batedores profissionais e que por esse meio se divertem a atormentar uma família ou contrariá-la com suas importunações. De sua parte podemos esperar às vezes ditos espirituosos,mas nunca frases profundas. Seria, pois, perder tempo dirigir-lhes questões de certo interesse científico ou filosófico. Sua ignorância e sua inferioridade lhe valeram, justamente, de parte dos demais Espíritos, a qualificação de Espíritos pelotiqueiros ou saltimbancos do mundo espírita. Acrescentemos, porém, que eles não agem sempre por sua própria conta,sendo também, freqüentemente, instrumentos de que se servem os Espíritos superiores quando querem produzir efeitos materiais.(3)

(1) Trata-se da mesinha de salão guéridon, redonda, com um eixo central como pé, de cuja extremidade inferior saem três recurvos. Muito usada nos salões parisiense da época para o passatempo das mesas girantes. (N. do T.)
(2) Em francês: tiptologie intime. Trata-se do mesmo fenômeno dos raps ingleses. O zelo de Kardec leva-o a indicar as possibilidades de fraude nesse fenômeno, que realmente existem, mas que numa sessão bem organizada não poderiam ocorrer. Aliás, as imitações sempre fracassam em trabalhos sérios. (N. do T.)
(3) Muitos outros meios de comunicação foram inventados na Europa e na América, o que atesta a naturalidade e constância relações entre os Espíritos e os Homens. Aparelhos complicados foram e continuam a serem inventados. Alguns cientistas e curiosos procuraram descobrir meios mecânicos, elétricos, eletrônicos e outros de comunicação direta com os Espíritos.Mas, como Kardec acentua no capítulo acima, essas complicações têm utilidade relativa e aumentam a desconfiança dos céticos. Dispensar a mediunidade, excluir o intermediário humano é outra preocupação de pessoas interessadas no aspecto puramente científico do Espiritismo. Mas as comunicações dependem, como a doutrina esclarece, da inter-relação, de Espírito a Espírito, através dos elementos constitutivos do perispírito. As máquinas só podem servir como instrumentos acionados por médiuns. E a independência do Espírito comunicante se prova melhor através dos meios naturais de comunicação, como acentua Kardec no item 143. É o aperfeiçoamento do homem, como médium, e não aprimoramento dos processos ou a invenção de máquinas para comunicação, o que tornará cada vez mais evidente a existência e comunicabilidade dos Espíritos. (N. do T. )

AÇÃO DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA

                    52. Excluída a interpretação materialista, ao mesmo tempo rejeitada pela razão e pelos fatos, resta apenas saber se a alma, após a morte, pode manifestar-se aos vivos. Assim reduzida à sua mais simples expressão, torna-se a questão bastante fácil. Poderíamos perguntar, primeiro, por que motivo os seres inteligentes, que de alguma maneira vivem entre nós, embora naturalmente invisíveis, não poderiam demonstrar-nos a sua presença por algum meio. O simples raciocínio mostra que isto nada tem de impossível, o que já é alguma coisa. Essa crença, aliás, tem a seu favor a aceitação de todos os povos, pois a encontramos em toda parte e em todas as épocas. Ora, uma intuição não poderia ser tão generalizada, nem sobreviver através dos tempos, sem ter alguma razão. Ela é ainda sancionada pelo testemunho dos livros sagrados e dos Pais da Igreja, e foi necessário o ceticismo e o materialismo do nosso século para relegá-la ao campo das superstições. Se estivermos, pois, em erro, essas autoridades também estão.
Mas estas são apenas considerações lógicas. Uma causa, acima de tudo, contribui para fortalecer a dúvida, numa época tão positiva como a nossa, em que tudo se quer conhecer, onde se quer saber o porquê e o como de todas as coisas: a ignorância da natureza dos Espíritos e dos meios pelos quais podem manifestar-se. Conquistado esse conhecimento, o fato das manifestações nada apresenta de surpreendente e entra na ordem dos fatos naturais.
52. A idéia que geralmente se faz dos Espíritos torna a princípio incompreensível o fenômeno das manifestações. Elas não podem ocorrer sem a ação do Espírito sobre a matéria. Por isso, os que consideram o Espírito completamente desprovido de matéria perguntaram, com aparente razão, como o pode agir materialmente. E nisso precisamente está o erro. Porque o Espírito não é uma abstração, mas um ser definido, limitado e circunscrito. O Espírito encarnado é a alma do corpo; quando o deixa pela morte, não sai desprovido de qualquer envoltório. Todos eles nos dizem que conservam a forma humana, e, com efeito, quando nos aparecem, é sob essa forma que os reconhecemos.
Observamo-los anteriormente no momento em que acabavam de deixar a vida. Acham-se perturbados; tudo para eles é conclusão; vêem o próprio corpo perfeito ou mutilado, segundo o gênero de morte; por outro lado, vêem a si mesmo e se sentem vivos. Alguma coisa lhes diz que aquele corpo lhes pertencia e não compreendem como possam estar separados. Continuam a se ver em sua forma anterior, e essa visão provoca em alguns, durante certo tempo, uma estranha ilusão: julgam-se ainda vivos. Falta-lhes a experiência desse novo estado para se convencerem da realidade. Dissipando-se esse primeiro momento de perturbação, o corpo lhes aparece como velha roupa de que se despiram e que não querem mais. Sentem-se mais leves e como livres de um fardo. Não sofrem mais as dores físicas e são felizes de poderem elevar-se e transpor o espaço, como faziam muitas vezes em vida nos seus sonhos.(1) Ao mesmo tempo, apesar da falta do corpo constatam a inteireza da personalidade: tem uma forma que não os constrange nem os embaraça tem a consciência do eu, da individualidade. Que devemos concluir disso? Que a alma não deixa tudo no túmulo mas leva com ela alguma coisa.
54. Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que trataremos mais tarde, demonstraram a existência no homem de três componentes: 1º) a alma ou Espírito, princípio inteligente em que se encontra o senso moral; 2º) o corpo, invólucro material e grosseiro de que é revestido temporariamente para o cumprimento de alguns desígnios providenciais; 3º) o perispírito, invólucro fluídico, semimaterial, que serve de liame entre a alma e o corpo.
A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação do envoltório grosseiro que a alma abandona. O outro envoltório desprende-se e vai com a alma, que dessa maneira tem sempre um instrumento. Este último, embora fluídico, etéreo, vaporoso, invisível, para nós em seu estado normal, é também material, apesar de não termos, até o presente, podido captá-lo e submetê-lo à análise.




Este segundo envoltório da alma ou perispírito existe, portanto, na própria vida corpórea. É o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe, e através do qual o Espírito transmite a sua vontade ao exterior, agindo sobre os órgãos do corpo. Para nos servimos de uma comparação, é o fio elétrico condutor que serve para a recepção e a transmissão do pensamento. É, enfim, esse agente misterioso, inapreensível, chamado fluido nervoso, que desempenha tão importante papel na economia orgânica e que ainda não se considera suficientemente nos fenômenos fisiológicos e patológicos. A Medicina, considerando apenas o elemento material ponderável, priva-se do conhecimento de uma causa permanente de ação, na apreciação dos fatos. Mas não é aqui o lugar de examinar essa questão; lembraremos somente que o conhecimento do perispírito é a chave de uma infinidade de problemas até agora inexplicáveis(2)
perispírito não é uma dessas hipóteses a que se recorre nas ciências para explicação de um fato. Sua existência não foi somente revelada pelos Espíritos, pois resulta também de observações, como teremos ocasião de demonstrar. Por agora, e para não antecipar questões que teremos de tratar, nos limitaremos a dizer que, seja durante a sua união com o corpo ou após a separação, a alma jamais se separa do seu perispírito.
55. Já se disse que o Espírito é uma flama, uma centelha.(3) Isto se aplica ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, ao qual não saberíamos dar uma forma determinada. Mas, em qualquer de seus graus, ele está sempre revestido de um invólucro ou perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia. Dessa maneira, a idéia de forma é para nós inseparável da idéia de Espírito, a ponto de não concebermos este sem aquela. O perispírito, portanto, faz parte integrante do espírito, como o corpo faz parte integrante do homem. Mas o perispírito sozinho não é o homem, pois o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o Homem: o agente ou instrumento de sua atividade.
56. A forma do perispírito é a forma humana, e quando ele nos aparece é geralmente a mesma sob a qual conhecemos o espírito na vida física. Poderíamos crer, por isso, que o perispírito, desligado de todas as partes do corpo, se modela de alguma maneira sobre ele e lhe conserva a forma. Mas não parece ser assim. A forma humana , com algumas diferenças de detalhes e as modificações orgânicas exigidas pelo meio em que o ser tem de viver, é a mesma em todos os globos. É pelo menos, o que dizem os Espíritos. E é também a forma de todos os Espíritos não encamados, que só possuem o perispírito. A mesma sob a qual em todos os tempos foram representados os anjos ou Espíritos puros. De onde devemos concluir que a forma humana é a forma típica de todos os seres humanos, em qualquer grau a que pertençam. Mas a matéria sutil do perispírito não tem a persistência e a rigidez da matéria compacta do corpo. Ela é, se assim podemos dizer, flexível e expansível. Por isso, a forma que ela toma, mesmo que decalcada do corpo, não é absoluta. Ela se molda à vontade do espírito, que pode lhe dar a aparência que quiser, enquanto o invólucro material lhe ofereceria uma resistência invencível.
Desembaraçado do corpo que o comprimia, o perispírito se distende ou se contrai, se transforma, em uma palavra: presta-se a todas as modificações, segundo a vontade que o dirige. É graças a essa propriedade do seu invólucro fluídico que o Espírito pode fazer-se reconhecer, quando necessário, tomando exatamente a aparência que tinha na vida física, e até mesmo com os defeitos que possam servir de sinais para o reconhecimento.
Os Espíritos, portanto, são seres semelhantes a nós, formando ao nosso redor toda uma população que é invisível no seu estado normal. E dizemos no estado normalporque, como veremos, essa invisibilidade não é absoluta.
57. Voltemos a tratar da natureza do perispírito, que é essencial para a explicação que devemos dar. Dissemos que, embora fluídico, ele se constitui de uma espécie de matéria, e isso resulta dos casos de aparições tangíveis, aos quais voltaremos. Sob a influência de certos médiuns, verificou-se a aparição de mãos, com todas as propriedades das mãos vivas, dotadas de calor, podendo ser apalpada, oferecendo a resistência dos corpos sólidos, e que de repente se esvaeciam como sombras. A ação inteligente dessas mãos, que evidentemente obedecem a uma vontade ao executar certos movimentos, até mesmo ao tocar músicas num instrumento, prova que elas são parte visível de um ser inteligente invisível. Sua tangibilidade, sua temperatura, a impressão sensorial que produzem, chegando mesmo a deixar marcas na pele, a dar pancadas dolorosas, a acariciar delicadamente, provam que são materialmente constituídas. Sua desaparição instantânea prova, entretanto, que essa matéria é extremamente sutil e se comporta como algumas substâncias que podem, alternativamente, passar do estado sólido ao fluídico e vice-versa.
58. A natureza íntima do espírito propriamente dita, ou seja, do ser pensante, é para nós inteiramente desconhecida. Ele se revela a nós pelos seus atos, e esses atos só podem tocar os nossos sentidos por um intermediário material. O Espírito precisa, pois, de matéria, para agir sobre a matéria. Seu instrumento direto é o perispírito, como o do homem é o corpo. O perispírito, como acabamos de ver, constitui-se de matéria. Vem a seguir o fluido universal, agente intermediário, espécie de veículo sobre o qual ele age como nós agimos sobre o ar para obter certos efeitos através da dilatação, da compreensão, da propulsão ou das vibrações.
Assim considerada, a ação do Espírito sobre a matéria é fácil de admitir-se. Compreendem-se então que os efeitos pertencem á ordem dos fatos naturais e nada tem de maravilhoso. Só pareciam sobrenaturais porque sua causa era desconhecida. Desde que a conhecemos, o maravilhoso desaparece, pois a causa se encontra inteiramente nas propriedades semimateriais do perispírito. Trata-se de uma nova ordem de coisas, que novas leis vêm explicar. Dentro em pouco ninguém mais se espantará com esses fatos, como ninguém hoje se espanta de poder comunicar-se à distância, em apenas alguns minutos, por meio da eletricidade.
59. Talvez se pergunte como pode o Espírito, com a ajuda de uma matéria tão sutil, agir sobre corpos pesados e compactos, erguer mesas etc. Certamente não será um homem de ciências que fará essa objeção, porque, sem falar das propriedades desconhecidas que esse novo agente pode ter, não vimos com os próprios olhos exemplos semelhantes? Não é nos gases mais rarefeitos,nos fluidos imponderáveis, que a indústria encontra as mais poderosas forças motrizes? Quando vemos o ar derrubar edifícios, o vapor arrastar massas enormes, a pólvora gaseificada elevar rochedos, a eletricidade despedaçar árvores e perfurar muralhas, que há de estranho em admitir que o Espírito, servindo-se do perispírito, possa erguer uma mesa, sobretudo quando se sabe que esse perispírito pode tornar-se visível, tangível e comportar-se como um corpo sólido?

(1) Quem se reportar ao que dissemos em O Livro dos Espíritos sobre os sonhos e o estado do Espírito durante o sono (nº 400 a 418), compreenderá que os sonhos que quase todos tem, vendo-se transportados através do espaço e como que voando, são a lembrança da sensação do Espírito durante o seu desprendimento do corpo, levando o corpo fluídico, o mesmo que conservará após a morte. Esses sonhos podem pois nos dar a idéia do estado do Espírito quando se desembaraçar dos entraves que o retêm na Terra. (Nota de Kardec)
(2) O desenvolvimento da Psicoterapêutica, e mais recentemente da Medicina psicossomática, confirmam o acerto de Kardec nesta observação. (N. do T.)

(3) O Livro dos Espíritos, nº 88. Respondendo a uma pergunta de Kardec sobre a forma dos Espíritos, os seus instrutores espirituais disseram: “Eles são, se o quiserdes, uma flama, um clarão ou uma centelha etérea”. (N. do T.)

EXISTEM ESPÍRITOS?

1.      A causa principal da dúvida sobre a existência dos Espíritos é a ignorância da sua verdadeira natureza. Imaginam-se os Espíritos como seres à parte na Criação, sem nenhuma prova da sua necessidade. Muitas pessoas só concedem os Espíritos através das estórias fantasiosas que ouviram em crianças, mais ou menos como as que conhecem História pelos romances. Não procuram saber se essas estórias, desprovidas do pitoresco,podem revelar um fundo verdadeiro, ao lado do absurdo que as choca. Não se dão ao trabalho de quebrar a casca da noz para descobrir a amêndoa. Assim, rejeitam a estória, como fazem os religiosos que, chocados por alguns abusos, afastam-se da religião.
Seja qual for à idéia que se faça dos Espíritos, a crença na sua existência decorre necessariamente do fato de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta do referido princípio. Partimos, pois, da aceitação da existência, sobrevivência e individualidade da alma, de que o Espiritualismo em geral nos oferece a demonstração teórica dogmática, e o Espiritismo a demonstração experimental. Mas façamos, por um instante, abstrações das manifestações propriamente ditas, e raciocinemos por indução. Vejamos a que conseqüências chegaremos.
            2. Admitimos a existência da alma e da sua individualidade após a morte, é necessário admitir também:
                    1º) Que a sua natureza é diferente da corpórea, pois ao separar-se do corpo ela não conserva as propriedades materiais;
                    2º) Que ela possuía consciência própria, pois lhe atribuímos a capacidade de ser feliz ou sofredora, e que tem de ser assim, pois do contrário ela seria um ser inerte e de nada nos valeria a sua existência.
Admitindo isso, é claro que a alma terá de ir para algum lugar. Mas para onde vai, e o que é feito dela? Segundo a crença comum, ela vai para o Céu ou para o Inferno. Mas onde estão o Céu e o Inferno? Dizia-se antigamente que o Céu estava no alto e o Inferno embaixo. Mas o que é o alto e o baixo no Universo desde que sabemos que a Terra é redonda; que os astros giram, de maneira que o alto e o baixo se revezam cada doze horas para nós; e conhecemos o infinito do espaço, no qual podemos mergulhar a distâncias incomensuráveis?
            É verdade que podemos entender por lugares baixos as profundezas da Terra. Mas o que são hoje essas profundezas, depois das escavações geológicas? O que são, também, essas esferas concêntricas chamadas céu de fogo, céu das estrelas, depois que aprendemos não ser o nosso planeta o centro do Universo, e que o nosso próprio Sol nada mais é do que um entre milhões de sóis que brilham no infinito, sendo cada qual o centro de um turbilhão planetário? Que foi feito da antiga importância da Terra agora perdida nessa imensidade? E por que estranho motivo este imperceptível de areia, que não se distingue pelo seu tamanho, nem pela sua posição, nem qualquer papel particular no cosmo, seria o único povoado de seres racionais? A razão se recusa a admitir essa inutilidade do infinito, e tudo nos diz que esses mundos também são habitados. E se assim é eles também fornecem os seus contingentes para o mundo das almas. Então, voltamos à pergunta: em que se tornam as almas, depois da morte do corpo, e para onde vão? A Astronomia e a Geologia destruíram as suas antigas moradas, e a teoria racional da pluralidade dos mundos habitados multiplicou-as ao infinito. Não havendo concordância entre a doutrina da localização das almas e os dados das ciências, temos de aceitar uma doutrina mais lógica, que não lhes marca este ou aquele lugar circunscrito, mas dá-lhes o espaço infinito: é todo um mundo invisível que nos envolve e no meio do qual vivemos, rodeados por elas.
            Há nisso alguma impossibilidade, qualquer coisa que repugne à razão? Nada, absolutamente. Tudo nos diz, pelo contrário, que não pode ser de outra maneira. Mas em que se transformam as penas e recompensas futuras, se as almas não vão para determinado lugar? Vê-se que a idéia dessas penas e recompensas é absurda e que dá motivo à incredulidade. Mas entendemos que as almas, em vez de penarem ou gozarem em determinado lugar, carregam em seu íntimo, a felicidade ou a desgraça, pois a sorte de cada uma depende de sua condição moral, e que a reunião das almas boas e afins é um motivo de felicidade, e tudo se tornará mais claro. Compreendamos que, segundo o seu grau de pureza, elas percebem e tem visões inacessíveis, às mais grosseiras; que somente pelos esforços que fazem para se melhorarem, e depois das provas necessárias, podem atingir os graus mais elevados; que os anjos são as almas humanas que chegaram ao grau supremo e que todos podem chegar até lá, através da boa vontade; que os anjos são os mensageiros de Deus, incumbidos de zelar pela execução de seus desígnios em todo o universo, sendo felizes com essa missão gloriosa; e a felicidade de após morte será uma condição útil e aceitável, mais atraente que a inutilidade perpétua da contemplação eterna. E os demônios? Compreendamos que são almas das criaturas más, ainda não depuradas, mas que podem chegar, como as outras, ao estado de pureza, e a justiça e a bondade de Deus se tornarão racionais, ao contrário do que nos apresenta a doutrina dos seres criados para o mal de maneira irrevogável. Eis, afinal, o que a mais exigente razão, a lógica mais rigorosa, o bom-senso, numa palavra, podem admitir.
            Como vemos, as almas que povoam o espaço são precisamente o que chamamos de Espíritos. Assim, os Espíritos são apenas as almas humanas, despojadas do seu invólucro corporal. Se os Espíritos fossem seres à parte na Criação, sua existência seria mais hipotética. Admitindo a existência das almas, temos de admitir a dos Espíritos, que nada mais são do que as almas. E se admitimos que as almas estão por toda parte, é necessário admitir que os Espíritos também estão. Não se pode, pois, negar a existência dos Espíritos sem negar a das almas.
                        3.      Tudo isto não passa de uma teoria mais racional do que a outra. Mas já não é bastante ser uma teoria que a razão e a ciência não contradizem? Além disso, ela é corroborada pelos fatos e tem a sanção da lógica e da experiência. Encontramos os fatos nos fenômenos de manifestações espíritas, que nos dão a prova positiva da existência e da sobrevivência da alma. Há muita gente, porém, que nega a possibilidade dessas comunicações com os Espíritos. São pessoas que acreditam na existência da alma, e conseqüentemente na dos Espíritos, mas sustentam a teoria de que os seres imateriais não podem agir sobre a matéria. Trata-se de uma dúvida originada pela ignorância da verdadeira natureza dos Espíritos, da qual geralmente se faz uma idéia falsa, considerando-os seres abstratos, vagos e indefinidos, o que não é verdade.
            Consideremos o Espírito, antes de mais nada, na sua união com o corpo. O Espírito é o elemento principal dessa união, pois é o ser pensante e que sobrevive à morte. O corpo não é mais que um acessório do Espírito, um invólucro, uma roupagem que ele abandona depois de usar. Além desse envoltório material o Espírito possui outro, semimaterial, que o liga ao primeiro. Na morte, o Espírito abandona o corpo, mas não o segundo envoltório, a que chamamos de perispírito. Este envoltório semimaterial, que tem a mesma forma humana do corpo, é uma espécie de corpo fluídico, vaporoso, invisível para nós no seu estado normal, mas possuindo ainda algumas propriedades da matéria.(1)
            Não podemos, pois, considerar o espírito como uma simples abstração, mas como um ser limitado e circunscrito, a que só falta ser visível e palpável para assemelhar-se às criaturas humanas. Por que não poderia ele agir sobre a matéria? Pelo fato de ser fluídico o seu corpo? Mas não é entre os fluidos mais rarefeitos, como a eletricidade, por exemplo, e os que se consideram mais imponderáveis, que encontramos as mais poderosas forças motoras?A luz imponderável não exerce ação química sobre a matéria ponderável? Não conhecemos ainda a natureza íntima do perispírito, mas podemos supô-lo constituindo de substância elétrica, ou de outra espécie de matéria tão sutil como essa. Por que separado não poderia agir da mesma maneira, dirigido pela vontade? (2)
            4. A existência de Deus e da alma, conseqüência uma da outra, constitui a base de todo o edifício do Espiritismo. Antes de aceitarmos qualquer discussão espírita, temos de assegurar-nos se o interlocutor admite essa base. Se ele responder negativamente às perguntas: “Crê em Deus? Crê na existência da alma? Crê na sobrevivência da alma após a morte”? ou se responder simplesmente: Não sei; desejava que fosse assim, mas não estou certo, o que geralmente equivale a uma negação delicada, disfarçada para não chocar bruscamente o que ele considerapreconceitos  respeitáveis, seria inútil prosseguir. Seria como querer demonstrar as propriedades da luz a um cego que não admitisse a existência da luz. As manifestações espíritas são os efeitos das propriedades da alma. Assim, com semelhante interlocutor, se não quisermos perder tempo, só nos resta seguir outra ordem de idéias. Admitidos os princípios básicos, não apenas como probabilidade, mas como coisa averiguada, incontestável, a existência dos Espíritos será uma decorrência natural.
            5. Resta saber se o Espírito pode comunicar-se com o homem, permutar pensamentos com os encamados. Mas por que não? Que é o homem, senão um Espírito revestido de corpo material? Qual o motivo por que um Espírito livre não poderia comunicar-se com um Espírito cativo, como o homem livre se comunica com o prisioneiro? Admitida a sobrevivência da alma, seria racional negar-se a sobrevivência das suas afeições? Desde que as almas estão por toda parte, não é natural pensar que a de alguém que nos amou durante a vida venha procurar-nos desejando comunicar-se conosco, e se utilize os meios que estão ao seu dispor? Quando viva na Terra, não agia ela sobre a matéria do seu corpo? Não era ela, a alma, que dirigia os movimentos corporais? Por que, pois, não poderia ela, após a morte, servir-se de outro corpo, de acordo com o Espírito nele encarnado, para manifestar o seu pensamento, como um mudo se serve de uma pessoa que fala, para fazer-se compreender?
            6. Afastemos por um instante os fatos que consideramos incontestáveis. Admitamos a comunicação como simples hipótese. Solicitamos aos incrédulos que nos provem, através de razões decisivas, que ela é impossível. Não basta a simples negação, pois seu arbítrio pessoal não é lei. Colocamo-nos no seu próprio terreno, aceitando a apreciação dos fatos espíritas através das leis materiais. Que eles assim, possam tirar, do seu arsenal científico, alguma prova matemática, física, química, mecânica, fisiológica, demonstrando por a mais b, sempre a partir do princípio da existência e da sobrevivência da alma, que:
1º) O ser pensante durante a vida terrena não deve mais pensar depois da morte;
2º) Se ele pensa, não deve mais pensar nos que amou;
3º) Se pensa nos que amou, não deve querer comunicar-se com eles;
4º) Se pode estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado;
5º) Se está ao nosso lado, não pode comunicar-se conosco;
6º) Por meio do seu corpo fluídico, não pode agir sobre a matéria inerte;
7º) Se pode agir sobre a matéria inerte, não pode agir sobre um ser vivo;
8º) Se pode agir sobre um ser vivo, não pode dirigir-lhe a mão para fazê-lo escrever;
9º) Podendo fazê-lo escrever, não pode responder-lhe as perguntas nem transmitir-lhe pensamento.
            Quando os adversários do Espiritismo nos demonstram que isso tudo não é possível, através de razões tão evidentes como as de Galileu para provar que o Sol não girava em torno da Terra, então poderemos dizer que as suas dúvidas são fundadas. Mas até hoje, infelizmente, toda a sua argumentação se resume nestas palavras: Não creio, porque é impossível. Eles retrucarão, sem dúvida, que cabe a nós provar a realidade das manifestações. Já lhes demos as provas, pelos fatos e pelo raciocínio; se recusam umas e outras, e se negam até mesmo o que vêem, cabe a eles provar que os fatos são impossíveis e que o nosso raciocínio é falso.



(1) ) O apóstolo Paulo, como podemos ver na I Epístola aos Coríntios, chama o períspirito de corpo espiritual, que é o corpo da ressurreição. As investigações científicas da Metapsíquica e da Parapsicologia tiveram de enfrentar, malgrado o materialismo dos pesquisadores, a existência desse corpo semimaterial (N. do T. )

(2) Além das ações químico-físicas dos elementos imponderáveis, a Parapsicologia moderna provou, em experiências de laboratório, a ação da mente sobre a matéria. O prof. Joseph Banks Rhine, da Duke University, Estados Unidos, chegou à conclusão de que a mente não é física, mas age por via-extrafísica, sobre o mundo material. Os parapsicólogos soviéticos, materialistas comprovaram a ação mental sobre a matéria, afirmando que o córtex cerebral deve possuir uma energia material ainda não conhecida pelas ciências (N. do T. )

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Existem planetas de condições piores que as da Terra?

Existem planetas de condições piores que as da Terra? -Existem orbes que oferecem piores perspectivas de existência que o vosso e, no que se refere a perspectivas, a Terra é um plano alegre e formoso, de aprendizado. O único elemento que aí destoa da Natureza é justamente o homem, avassalado pelo egoísmo. Conhecemos planetas onde os seres que os povoam são obrigados a um esforço contínuo e penoso para aliciar os elementos essenciais à vida; outros, ainda, onde numerosas criaturas se encontram em doloroso degredo. Entretanto, no vosso, sem que haja qualquer sacrifício de vossa parte, tendes gratuitamente céu azul, fontes fartas, abundância de oxigênio, árvores amigas, frutos e flores, cor e luz, em santas possibilidades de trabalho, que o homem há renegado em todos os tempos. 73 –A humanidade terrestre é idêntica a doutros orbes? -Nas expressões física, semelhante analogia é impossível, em face das leis substanciais que regem cada plano evolutivo; mas, procuremos entender por humanidade a família espiritual de todas as criaturas de Deus que povoam o Universo e, examinada a questão sob esse prisma, veremos a comunidade terrestre identificada com a coletividade universal. 74 –O homem científico poderá encarar com êxito as possibilidades de uma viagem interplanetária? -Pelo menos, enquanto perdurar a sua atitude de confusão, de egoísmo e rebeldia, a humanidade terrestre são deve alimentar qualquer projeto de viagem interplanetária. Que dizermos do homem que, sem dispor a ordem na sai própria casa, quisesse invadir a residência dos vizinhos? Se tantas vezes as criaturas terrestres têm menosprezado os bens que a Providência Divina lhes colocou nas mãos, não seria justo circunscreve-las ao seu âmbito acanhado e mesquinho? O insulamento da Terra é um bem inapreciável. Observemos as expressões do progresso humano, movimentadas para a guerra e para a destruição, nos triunfos da força, e rendamos louvores ao Pai Celestial por não haver dilatado no orbe terreno os processo de observação das suas vaidosas criaturas. 7.

Como se deverá comportar o espiritista perante a política do mundo?

–Como se deverá comportar o espiritista perante a política do mundo? _O sincero discípulo de Jesus está investido de missão mais sublime, em face da tarefa política saturada de lutas materiais. Essa é a razão por que não deve provocar uma situação de evidência para si mesmo nas administrações transitórias do mundo. E, quando convocado a tais situações pela força das circunstâncias, deve aceita-las não como galardão para a doutrina que professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil. O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir e consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal, depreendendo-se daí que a verdadeira construção da felicidade geral só será efetiva com bases legítimas no espírito das criaturas. 61 –Como devemos encarar a política do racismo? -Se é justo observarmos nas pátrias o agrupamento de múltiplas coletividades, pelos laços afins da educação e do sentimento, a política do racismo deve ser encarada como erro grave, que pretexto algum justifica, porquanto não pode apresentar base séria nas suas alegações, que mal encobrem o propósito nefasto de tirania e separatividade. 62 –O “não matarás” alcança o caçador que mata por divertimento e o carrasco que extermina por obrigação? -À medida que evolverdes no sentimento evangélico; compreendereis que todos os matadores se encontram em oposição ao texto sagrado. No grau dos vossos conhecimentos atuais, entendeis que somente os assassinos que matam por perversidade estão contra a lei divina. Quando avançardes mais no caminho, aperfeiçoando o aparelho social, não tolerareis o carrasco, e, quando estiverdes mais espiritualizados, enxergando nos animais os irmãos inferiores de vossa vida, a classe dos caçadores não terá razão de ser. Lendo, os nossos conceitos, recordareis os animais daninhos e, no íntimo, haveis de ponderar sobre a necessidade do seu extermínio. É possível, porém, que não vos lembreis dos homens daninhos e ferozes. O caluniador não envenena mais que o toque de uma serpente? Com frieza a maquinaria da guerra incompreensível não é mais impiedosa que o leão selvagem?... Ponderemos essas verdades e reconheceremos que o homem espiritual do futuro, com a luz do Evangelho na inteligência e no coração, terá modificado o

Tem o Espiritismo um papel especial junto da Sociologia?

Tem o Espiritismo um papel especial junto da Sociologia? -Na hora atual da humanidade terrestre, em que todas as conquistas da civilização se subvertem nos extremismos, o Espiritismo é o grande iniciador da Sociologia, por significar o Evangelho redivivo que as religiões literalistas tentam inumar nos interesses econômicos e na convenção exterior de seus prosélitos (adeptos). Restaurando os ensinos de Jesus para o homem e esclarecendo que os valores legítimos da criatura são os que procedem da consciência e do coração, a doutrina consoladora dos Espíritos reafirma a verdade de que a cada homem será dado de acordo com seus méritos, no esforço individual, dentro da aplicação da lei do trabalho e do bem; razão pela qual representa o melhor

Sociologia, o conceito de igualdade absoluta?

–Pode admitir-se, em Sociologia, o conceito de igualdade absoluta? -A concepção igualitária absoluta é um erro grave dos sociólogos, em qualquer departamento da vida. A tirania política poderá tentar uma imposição nesse sentido, mas não passará das espetaculosas uniformizações simbólicas para efeitos exteriores, porquanto o verdadeiro valor de um homem está no seu íntimo, onde cada espírito tem sua posição definida pelo próprio esforço. Nessa questão existe uma igualdade absoluta de direitos dos homens perante Deus, que concede a todos os seus filhos uma oportunidade igual nos tesouros inapreciáveis do tempo. Esses direitos são os da conquista da sabedoria e do amor, através da vida, pelo cumprimento do sagrado dever do trabalho e do esforço individual. Eis por que cada criatura terá o seu mapa de méritos nas sendas evolutivas, constituindo essa situação, nas lutas planetárias, um a grandiosa progressiva em matéria de raciocínios e sentimento, em que se elevará naturalmente todo aquele que mobilizar as possibilidades concedidas à sua existência para o trabalho edificante da iluminação de si mesmo, nas sagradas expressões do esforço individual.

Espiritismo, o preceito da Psicologia

–Como poderemos compreender, pelo Espiritismo, o preceito da Psicologia que afirma a experiência dos nossos cinco sentidos como todo o fundamento de nossa vida mental? -O Espiritismo esclarece que o homem é senhor de um patrimônio mais vasto, consolidado nas suas experiências de outras vidas, provando que o legítimo fundamento da vida mental não reside, de maneira absoluta, na contribuição dos sentidos corporais, mas também nas recordações latentes do pretérito, das quais os fenômenos da inteligência prematura, na Terra, são os testemunhos mais eloqüentes. 43 –Estabelecendo a psicologia do mundo como sede da memória, do julgamento e da imaginação, as partes do cérebro humano, cujas funções não são ainda devidamente conhecidas pela Ciência, retardam a solução de um problema que só pode ser satisfeito pelos conhecimentos espiritistas? -Distante das cogitações de ordem divina, a psicologia terrestre efetua essa procrastinação, até que consiga atingir o profundo estuário da verdade integral. 44 –Poderá a Psicologia chegar a uma solução cabal do problema das desordens mentais, denominadas anormalidades psicológicas? -Movimentando tão-somente os materiais da ciência humana, a Psicologia não atingirá esse desiderato, conservando-se no terreno das definições e dos estudos, distantes da causa. Os conhecimentos do mundo, porém, caminham para a evolução dessa ciência à luz do Espiritismo, quando, então, seus investigadores poderão alcançar as soluções precisas. 45 –A psicanálise freudiana, valorizando os poderes desconhecidos do nosso aparelhamento mental, representa um traço de aproximação entre a Psicologia e o Espiritismo? -Essas escolas do mundo constituem sempre grandes tentativas para aquisição das profundas verdades espirituais, mas os seus mestres, com raras exceções, se perdem na vaidade dos títulos acadêmicos ou nas falsas apreciações dos valores convencionais. Os preconceitos científicos, por enquanto, impossibilitam a aproximação legítima da Psicologia oficial e do Espiritismo. Os processos da primeira falam da parte desconhecida do mundo mental, a que chamam de subconsciente, sem definir essa cripta misteriosa da personalidade humana, examinando-a apenas na classificação pomposa das palavras. Entretanto, somente à luz do Espiritismo poderão os métodos psicológicosaprender que essa zona oculta, da esfera psíquica de cada um, é o reservatório profundo das experiências do passado, em existências múltiplas da criatura, arquivo maravilhoso em todas as conquistas do pretérito são depositadas em energias potenciais, de modo a ressurgirem no momento oportuno. 46 –Como poderemos compreender os chamados complexos ou associações de idéias no fenômeno mental? -Sabemos que as associações de idéias não têm causa nas células nervosas, constituindo antes ações espontâneas do espírito dentro do vasto mecanismo circunstancial; ações essas, oriundas do seu esforço incessantes, projetadas através do cérebro mental, que não é mais que um instrumento passivo. 47 –Por que, relativamente ao estudo dos processos mentais, se encontram divididos no campo da opinião os psicologistas do mundo? -Os psicologistas humanos, que se encontram ainda distantes das verdades espirituais, divide-se tão-só pelas manifestações do personalismo, dentro de suas escolas; mesmo porque, analisando apenas os efeitos,, não investigam as causas, perdendo-se na complicação das nomenclaturas científicas, sem uma definição séria e simples do processo mental, onde se sobrelevam as profundas realidades do espírito. 48 –O Espiritismo esclarecerá a Psicologia quanto ao problema da sede de inteligência? -Somente com a cooperação do Espiritismo poderá a ciência psicológica definir a sede da inteligência humana, não nos complexos nervosos ou glandulares do corpo perecível, mas no espírito imortal.

árvore genealógica dos seres humanos

A denominada árvore genealógica dos seres humanos tem idêntica significação no plano espiritual? -Na esfera espiritual persiste o mesmo esforço na conservação e dilatação dos afetos familiares e, ora nos trabalhos regeneradores da Terra, ora na luz santificante dos planos siderais, transformam-se as paixões ou sentimentos ilegítimos em sagrados liames do espírito. A árvore genealógica, porém, como se conhece na luta planetária, não se transporta ao plano invisível, porque, aí, os vínculos de sangue são substituídos pelas atrações dos sentimentos de amor sublime, purificados no patrimônio das experiências e lutas vividas em comum. 

As forças espirituais organizaram igualmente a atmosfera do mundo?

–As forças espirituais organizaram igualmente a atmosfera do mundo? -Isso é indubitável. A inteligência com que foram dispostos os elementos do cenário, para o desenvolvimento da vida no planeta, vo-lo comprova. A algumas dezenas de quilômetros foram colocados os revestimentos do ozônio, destinados a filtrar os raios solares; dosando-lhes a natureza para a proteção da vida. Da atmosfera recebe a maior porcentagem de nutrição para o entretenimento das células. E como o nosso escopo não é o de citações eruditas, nem o de redizer os preceitos científicos do mundo, lembremos que um homem, na manutenção da sua vida orgânica. Necessita de regular quantidade de oxigênio, quinze gramas de azoto (alimentar) e quinhentos gramas de carbono (alimentar). O oxigênio é uma dádiva de Deus para todas as criaturas ; quanto ao azoto e ao carbono, é pela obtenção que o homem luta afanosamente na Terra, recordando-nos a exortação dos textos sagrados ao espírito que faliu – “comerás o pão com o suor do teu rosto”. O problema básico da nutrição, nessa conta de química, é uma reafirmação da generosidade paterna do Criador e do estado expiatório em que se encontram as almas reencarnadas neste mundo. 14 –Como compreender a afirmativa dos astrônomos relativamente à morte térmica do planeta? -É certo que todo organismo material se transformará, um dia, revestindo novas formas. As energias do Sol, como as forças telúricas do orbe terrestre, serão esgotadas aqui, para surgirem noutra parte. Alguns astrônomos calculam a morte térmica do planeta para daqui a um milhão de anos, aproximadamente. Já se disse, porém, que a vida é p eterno presente. E o nosso primeiro dever não é o de contar o tempo, demarcando, em bases inseguras, a duração das obras conhecidamente sagrada para as edificações definitivas do nosso espírito, as quais são inacessíveis a todas as transformações da matéria, em face do Infinito. Da Obra “O CONSOLADOR” – Espírito: EMMANUEL – Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER Digitado por: Lúcia Aydir

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Tolerância

Tolerância


Betsaída! Betsaída! Famosa cidade que resplandece na história por ser berço, não somente de Filipe, o apóstolo - inquieto por saber os segredos do Criador e da vida - como de André e Pedro. Burgo pertencente ao reino da Galiléia, eixo do discípulo do Divino Mestre!

O sol começava a distribuir seus primeiros raios de um ouro encantador, como se fossem as mãos de Deus abençoando a vinha fecundante da Terra, com sementes de luz. Filipe já se encontrava de pé, contemplando a natureza, que fazia palpitar cada vez mais seus coração ansioso pela verdade, manisfestando, em cada batida, interessante profundo por um diálogo que lhe acalmasse o raciocínio. Deixou que a luz do astro o beijasse em todas as direções. Lembrou-se da juventude junto aos pais, seus amigos, os rebanhos, a pesca, as flores. Parou os pensamentos, encantado, sem nenhuma mescla de dúvida sobre a grande inteligência que nos comanda a todos, sentindo o Senhor palpitar em toda a criação. Seu raciocínio se empalidecia diante do que o coração lhe oferecia como esperança, que transmutava as claridades do tempo em fé, aquela fé, que mais tarde, o Evangelho anunciaria como capaz de transportar montanhas.

Por que tudo isso, Filipe? Porque aquela noite haveria o encontro de Jesus com todos os Seus discípulos. Era como um festival doutrinário. Era Deus, por intermédio do Mestre, renovando a confiança para com os homens do mundo. Era o cumprimento de todas as profecias sobre Aquele que haveria de vir!

Naquele dia, o carro solar fez todo o seu majestoso percurso como se fosse em segundos, para o apóstolo Filipe. As primeiras horas da noite, ele se colocava no meio dos doze, à beira do Lago de Genesaré, em um velho casarão, onde o Cristo se salientava silenciosamente em uma tosca cepa de cedro, perpassando seus olhos mansos e lúcidos por todo o colégio apostolar. Filipe, envolvido por emoções indescritíveis, cruza seu olhar solícito com o do Nazareno, que já esperava ouvir algo do apóstolo. O filho de Betsaída levanta-se, num misto de alegria e emotividade, e fala, com fervor:

- Mestre, era nosso intento saber com mais propriedade, pela extensão da linguagem espiritual, o que significa Tolerância, pois, às vezes me confundo, por desconhecer seus limites.

O silêncio era a tônica do ambiente. Filipe acomoda-se em um banco improvisado e espera a resposta, ansioso como todos os companheiros do aprendizado evangélico. 

Jesus renova seu olhar em todos os presentes, deixa entreabrir os lábios num leve sorriso e expõe, com segurança:

- Filipe, a Tolerância é um estado de alma que todos nós devemos conquistar. Ela, por si, tem múltiplos valores, mas denuncia algum perigo. É como uma massa forte no alimento da vida que, sem outros ingredientes auxiliares, exagera a fermentação; contudo, não podemos viver sem a força da Tolerância, que nos faz acalmar alguns impulsos inferiores. É proveitoso que, junto a ela, coloquemos a razão em evidência, para que ela não passe dos limites que lhe compete atingir. A enfermidade moral esta sujeita às mesmas leis que as doenças do corpo.Um terapeuta, para ministrar remédios aos enfermos, necessita conhecer as dosagens correspondentes aos desequilíbrios orgânicos; assim é o orientador. A impaciência, nesses casos, pode ser fatal como o veneno disciplinado é fonte de vida. A Tolerância, Filipe, que do modo como pensas, forma uma interrupção na mente que desconhece a disciplina, esquecendo a justiça. Ela não pode passar das fronteiras delimitadas pelo bom senso.

Jesus dá um tempo para que todos ordenem os pensamentos. Filipe parece em êxtase, procurando confrontar assuntos e extrair a essência dos conceitos do Divino Amigo. Quando o apóstolo quis continuar o assunto da complacência; sentindo dificuldade na aplicação desta virtude singular, Jesus adiantou-se, consciente de seus pensamentos e continuou sua fala, com serenidade:

-Filipe! Quando toleras um desequilíbrio, aprovas a desarmonia. E assim passarás a alimentar uma força contrária, que persegue a tua própria paz, estabelecendo um vínculo teu com o fato e vice-versa. Tolerar, sem conhecimento de causa é estimular efeitos por vezes perniciosos, motivando o ambiente de convivência. Entretanto, é preciso notar que desaprovar um ato alheio, ou mesmo nosso, não implica em usar a violência nem tampouco o escândalo. Pelas tuas próprias feições, ao conversar com alguém, é fácil de notar, no silêncio do coração, que não apóias tais ou quais atitudes;e pela alegria e interesse que manifestas pelos ideais superiores do companheiro tu escreverás, sem uso do verbo e da letra, tua aprovação pelo bem da coletividade, principalmente quando esse ideal se apóia nos alicerces da dignidade que as leis de Deus nos oferece, Tolerância... é a palavra mais ou menos solta, que carece de solicitude do coração e da inteligência enriquecidos na experiência do tempo e nas bênçãos do Pai Celestial.

O Mestre deixou passar alguns segundos e complementou:

- Moderação não é tão difícil como todos podem pensar; o mais engenhosos é saber tolerar.

Faz-se silêncio novamente e os olhos dos discípulos se entrecruzaram como se estivessem numa conversação mental, procurando, cada um, o apoio do outro na assimilação dos conceitos da noite. Filipi, como que magnetizado pela luz, deixa escapar um suspiro, monologando:

- Meu Deus! Como é trabalhoso ser bom! Como é problemático ajudar aos outros nas linhas paralelas da justiça e do amor!

Suspirou profundamente e acrescentou:

-  Talvez a Tolerância, dentro dessas normas, não agrade a ninguém!

A atmosfera do ambiente pedia meditação. Nenhum dos discípulos ousava quebrar o silêncio diante do Cristo, esperando por um desfecho de maior entendimento, como acontecera em outra ocasiões. Filipe encontra novamente o olhar firme e magnânimo de Jesus, de onde esplendia carinho e doçura. E começa a ouvir o Rabi da Galiléia sentindo que estava a sós com Ele, nos páramos infinitos Jesus continuou: 

- Não esqueçais nunca da condescendência . Desde quando abris os olhos ao acordar até fechá los para dormir, que ela seja o resguardo das vossas vidas e da vida dos que anseiam pela felicidade. Todavia é justo que não vos esqueçais da educação, tornando-a consciência dos caminhos que percorrem o amor mais puro, aquele que cede na hora que a caridade deseja, e que nega no momento em que o abuso pretende dominar a humildade. No instante em que duvidais até que ponto possa atingir a paciência, procurai os recursos da oração com respeito e fé, que a inspiração divina vós dará a resposta pelos processos da certeza como o instinto selecionador do comer e do beber dos animais. O prêmio para todos nós virá com a assistência dos anjos para todos os que se esforçam em direção à luz. Se queres viver em paz com os outros e com os vossos semelhantes, desde que façais tudo isso com e por amor.

Todos os discípulos respiraram aliviados com os últimos remates de Jesus, por associar a oração como força propulsora na aquisição da fé, guardando a lição do Mestre sobre Tolerância, para aplicá-la em todas as oportunidades que surgissem.


extraído do livro Ave Luz de João Nunes Maia pelo espírito de Shaolim.