É tempo de reagir com vigor contra essas doutrinas funestas, e de
procurar, fora da órbita oficial e das velhas crenças, novos métodos de ensino
que correspondam às imperiosas necessidades da hora presente. É preciso
dispor os Espíritos para os reclamos, os combates da vida presente e das vidas
ulteriores; é necessário, sobretudo, ensinar o ser humano a conhecer-se, a
desenvolver, sob o ponto de vista dos seus fins, as forças latentes que nele
dormem.
Até aqui, o pensamento confinava-se em círculos estreitos: religiões,
escolas, ou sistemas, que se excluem e combatem reciprocamente. Daí essa
divisão profunda dos espíritos, essas correntes violentas e contrárias, que
perturbam e confundem o meio social.
Aprendamos a sair destes círculos austeros e a dar livre expansão ao
pensamento. Cada sistema contém uma parte de verdade; nenhum contém a
realidade inteira. O Universo e a vida têm aspectos muito variados, numerosos
demais para que um sistema possa abraçar a todos. Destas concepções
disparatadas, devem recolher-se os fragmentos de verdade que contêm,
aproximando-os e pondo-os de acordo; é necessário, depois, uni-los aos novos e
múltiplos aspectos da verdade que descobrirmos todos os dias, e encaminha-nos
para a unidade majestosa e para a harmonia do pensamento. A crise moral e a decadência da nossa época provêm, em grande parte,
de se ter o espírito humano imobilizado durante muito tempo. É necessário
arrancá-lo à inércia, às rotinas seculares, levá-lo às grandes altitudes, sem
perder de vista as bases sólidas que lhe vem oferecer uma ciência engrandecida
e renovada. Esta ciência de amanhã, trabalhamos em constituí-la.
Ela nos fornecerá o critério indispensável, os meios de verificação e de
comparação, sem os quais o pensamento, entregue a si mesmo, estará sempre
em risco de desvairar.
*
A perturbação e a incerteza que verificamos no ensino repercutem e se
encontram, dizíamos, na ordem social inteira.
Em toda parte, dentro como fora, a crise existe, inquietante. Sob a
superfície brilhante de uma civilização apurada, esconde-se um mal-estar
profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito dos interesses e a luta
pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever se tem
enfraquecido na consciência popular, a tal ponto, que muitos homens já não
sabem onde está o dever. A lei do número, isto é, da força cega, domina mais do
que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus
instintos da multidão, a propagar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois,
quando a maré sobe e sopra o vento de tempestade, eles afastam de si toda a
responsabilidade.
Onde está, pois, a explicação deste enigma, desta contradição notável
entre as aspirações generosas de nosso tempo e a realidade brutal dos fatos?
Por que um regime que suscitara tantas esperanças ameaça chegar à anarquia,
à ruptura de todo o equilíbrio social?
A inexorável lógica vai responder-nos: a Democracia, radical ou
socialista, em suas massas profundas e em seu espírito dirigente, inspirando-se
nas doutrinas negativas não podia chegar senão a um resultado negativo para a
felicidade e elevação da Humanidade. Tal o ideal, tal o homem; tal a nação, tal o
país!
As doutrinas negativas, em suas consequências extremas, levam
fatalmente à anarquia, isto é, ao vácuo, ao nada social. A história humana já o
tem experimentado dolorosamente.
Enquanto se tratou de destruir os restos do passado, de dar o último
golpe nos privilégios que restavam, a Democracia serviu-se habilmente de seus
meios de ação. Mas, hoje, importa reconstruir a cidade do futuro, o edifício
vasto e poderoso que deve abrigar o pensamento das gerações. Diante dessas
tarefas, as doutrinas negativistas mostram sua insuficiência e revelam sua
fragilidade; vemos os melhores operários debaterem-se em uma espécie de
impotência material e moral.
Nenhuma obra humana pode ser grande e duradoura se não se
inspirar, na teoria e na prática, em seus princípios e em suas explicações, nas
leis eternas do Universo. Tudo o que é concebido e edificado fora das leis
superiores se funda na areia e desmorona.
Ora, as doutrinas do socialismo atual têm uma tara capital. Querem
impor uma regra em contradição com a Natureza e a verdadeira lei da
Humanidade: o nível igualitário.
A evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da Natureza e da
vida. É a razão de ser do homem, a norma do Universo. Insurgir-se contra essa
lei, substituir-lhe por outro o fim, seria tão insensato como querer parar o
movimento da Terra ou o fluxo e o refluxo dos oceanos.
O lado mais fraco da doutrina socialista é a ignorância absoluta do
homem, de seu princípio essencial, das leis que presidem ao seu destino. E
quando se ignora o homem individual, como se poderia governar o homem
social?
A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em
nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e
dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a
inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de
leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas.
Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui
bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que
outro povo de moralidade inferior.
Sendo uma sociedade a resultante das forças individuais, boas ou más,
para se melhorar a forma dessa sociedade é preciso agir primeiro sobre a
inteligência e sobre a consciência dos indivíduos. Mas, para a Democracia
socialista, o homem interior, o homem da consciência individual não existe; a
coletividade o absorve por inteiro. Os princípios que ela adota não são mais do
que uma negação de toda filosofia elevada e de toda causa superior.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Pensamento.
"Esses pobres moços admitem que tudo quanto se passa no mundo é
efeito necessário e fatal de condições primárias, em que a vontade não intervém;
consideram que a própria existência é, forçosamente, joguete da fatalidade
inelutável, à qual estão entregues de pés e mãos ligados. Esses moços cessam de
lutar logo às primeiras dificuldades. Já não creem em si mesmos. Tornam-se
túmulos vivos, onde se encerram, promiscuamente, suas esperanças, seus esforços, seus desejos, fossa comum de tudo o que lhes fez bater o coração até ao
dia do envenenamento. Tenho visto desses cadáveres diante de suas carteiras e no
laboratório, e tem-me causado pena vê-los."Pense nisso .
Assinar:
Postagens (Atom)