Como se processam as
reencarnações? Existem métodos, planejamentos, diretrizes e escolhas?
Podemos decidir qual corpo tomaremos na nova encarnação? Todas as pessoas
possuem esta liberdade? E os detalhes do corpo, como altura, peso, traços
faciais, cor dos olhos, cabelos e pele e outras minúcias, são obra do
acaso, herança genética ou fruto de elaborada engenharia celeste? Somos
"assim ou assado" porque Deus quer ou quis ou haverá, no Além, por trás de
cada ser renascido, um sofisticado instituto de planejamento de
reencarnações?
Se a sua mente vive repleta de perguntas sobre o assunto, se a sua
inteligência visualiza outra dinâmica para o incessante vaivém da vida, se você
não suporta mais ouvir respostas do tipo "porque sim",
"só Deus sabe" e "tá na Bíblia" para explicar tantas e tão
angustiantes questões, aqui estão algumas explicações bem mais
conclusivas... e coerentes! - Instituto André Luiz.
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Do livro:
Missionários da Luz
Série: Nosso Lar
Autor: André Luiz (Espírito)
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
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"A sós com
Alexandre, mentor devotado e amigo, comecei a meditar na possibilidade de
contribuir igualmente no caso que se me deparava. Nunca tivera
oportunidade de acompanhar, de perto, um processo de reencarnação,
estudando os ascendentes espirituais nas questões da embriologia. Não
seria interessante, para mim, utilizar a experiência? Nesse propósito,
dirigi-me ao instrutor, sem falar, porém, da minha pretensão em sentido
direto:
- Notável para mim a solicitação de hoje -exclamei. - Longe estava de
pensar, no mundo, na multiplicidade de tarefas atribuídas aos benfeitores
e missionários desencarnados. A extensão do serviço em nosso campo de ação
assombraria a qualquer mortal.
- Sem dúvida - respondeu o mentor, atencioso -, os trabalhos se desdobram
em todas as direções. O pedido de Herculano vem focalizar um dos mais
importantes problemas da felicidade humana: o da aproximação fraternal, do
perdão recíproco, da semeadura do amor, através da lei reencarnacionista.
Alexandre meditou alguns momentos e continuou:
- O caso é típico. O drama de Segismundo é demasiadamente complexo para
ser comentado em poucas palavras. Basta, todavia, recordar que ele,
Adelino e Raquel são os protagonistas culminantes de dolorosa tragédia,
ocorrida ao tempo de minha última peregrinação pela Crosta. Em seguida a
uma paixão desvairada, Adelino foi vítima de homicídio; Segismundo, do
crime; e Raquel, do prostíbulo. Desencarnaram, cada um por sua vez, sob
intensa vibração de ódio e desesperação, padecendo vários anos, em zonas
inferiores. Mais tarde, por intercessão de amigos redimidos, os antigos
cônjuges obtiveram a volta ao corpo físico, a fim de santificarem os laços
sentimentais e se reaproximarem dos antigos adversários. Mas, como
acontece quase sempre, os heróis na promessa fraquejam na realização,
porque se apegam muito mais aos próprios desejos que à compreensão da
Vontade Divina. De posse dos bens da vida física, nega-se Adelino a
perdoar, recapitulando erradamente as lições do passado. Antes mesmo da
reencarnação do antigo transviado, já se manifesta contrário a qualquer
auxílio. Sempre o velho círculo vicioso - quando fora da oportunidade
bendita de trabalho terrestre e vendo a extensão das próprias
necessidades, desvela-se o companheiro em prometer fidelidade e
realização, mas, logo que se apossa do tesouro do corpo físico, volta ao
endurecimento espiritual e ao menosprezo das leis de Deus.
Calou-se o mentor, por alguns instantes, acentuando em seguida:
- Buscarei, porém, chamá-los à recordação dos compromissos.
Neste ínterim, entendendo que a oportunidade era preciosa, solicitei:
- Ser-me-ia possível acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito. Poderia
talvez adquirir valores significativos para o serviço do próximo e para
meu benefício pessoal. Ignoro até quando me será permitido estudar em sua
companhia e estimarei o aproveitamento integral de semelhante
oportunidade.
Alexandre sorriu, compassivo, e falou:
- Não tenho objeções. Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem
algum conhecimento prévio do assunto. Em toda edificação verdadeiramente
útil, não podemos prescindir da base. Temos bons amigos no Planejamento de
Reencarnações, serviço muito importante em nossa colônia espiritual,
diretamente relacionado com as atividades do Esclarecimento. Nessa
instituição durante alguns dias, você terá uma idéia aproximada de nossa
tarefa, portas adentro de semelhantes trabalhos. Grande percentagem de
reencarnações na Crosta se processa em moldes padronizados para todos, no
campo de manifestações puramente evolutivas. Mas outra percentagem não
obedece ao mesmo programa. Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos,
e, conseqüentemente, em responsabilidade, o processo reencarnacionista
individual é mais complexo, fugindo à expressão geral, como é lógico. Em
vista disso, as colônias espirituais mais elevadas mantêm serviços
especiais para a reencarnação de trabalhadores e missionários.
As explicações eram sedutoras e relevantes e, compreendendo a importância
dos esclarecimentos para meu pobre espírito, Alexandre continuou:
- Quando me refiro a trabalhadores, falo dos companheiros não
completamente bons e redimidos, mas daqueles que apresentam maior soma de
qualidades superiores, a caminho da vitória plena sobre as condições e
manifestações grosseiras da vida. Em geral, como acontece a nós outros,
são entidades em débito, mas com valores de boa Vontade, perseverança e
sinceridade, que lhes outorgam o direito de influir sobre os fatores de
sua reencarnação, escapando, de certo modo, ao padrão geral. Claro que nem
sempre tais alterações se verificam em condições agradáveis para a
experiência futura. Os serviços de retificação representam tarefas
enormes.
E desejando imprimir fortemente em meu espírito a noção da
responsabilidade, o instrutor prosseguiu, tornando mais grave a inflexão
da voz: - O problema da queda é também uma questão de aprendizado e o mal
indica posição de desequilíbrio, exigindo restauração e corrigenda. A
evolução confere-nos poder, mas gastamos muito tempo, aprendendo a
utilizar esse poder harmonicamente. A racionalidade oferece campo seguro
aos nossos conhecimentos; entretanto, André, quase todos nós,
trabalhadores da Terra, nos demoramos séculos no serviço de iluminação
íntima, porque não basta adquirir idéias e possibilidades, é preciso ser
responsável, e nem é justo tenhamos tão-somente a informação do
raciocínio, mas também a luz do amor.
- Daí as lutas sucessivas em continuadas reencarnações da alma! -
exclamei, vivamente impressionado.
- Sim - continuou meu amável interlocutor -, temos necessidade da luta que
corrige, renova, restaura e aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a
educação divina é o fim. Por isso mesmo, a par de milhões de semelhantes
nossos que evolvem, existem milhões que se reeducam em determinados
setores do sentimento, porquanto, se já possuem certos valores da vida,
faltam-lhes outros não menos importantes.
Identificando-me a dificuldade para compreender-lhe o ensinamento de
maneira integral, meu orientador voltou a dizer:
- Embora na condição de médico do mundo, acredito que você não tenha sido
completamente estranho aos estudos evangélicos.
- Sim, sim - retruquei -, tenho as minhas recordações nesse sentido.
- Pois bem, o próprio Jesus nos deixou material de pensamento para o
assunto em exame, quando nos asseverou que se a nossa mão ou os nossos
olhos fossem motivos de escândalo deveriam ser cortados ao penetrarmos no
templo da vida. Compete-nos transferir a imagem literal para a
interpretação simples do espírito. Se já falimos muitas vezes em
experiências da autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência,
não seria lógico receber idêntica oportunidade nos trabalhos
retificadores.
Compreendera claramente onde Alexandre pretendia chegar com os seus
esclarecimentos amigos. - É para a regulamentação de semelhantes serviços
que funciona em nossa colônia espiritual, por exemplo, o Planejamento de
Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher ensinamentos preciosos.
E, atendendo-me às necessidades como pai afetuoso, apresentou-me o
instrutor, no dia imediato, à imponente instituição.
Constituía-se o movimentado centro de serviço de vários prédios e
numerosas instalações. Árvores acolhedoras enfíleiravam-se através de
extensos jardins, imprimindo encantador aspecto à paisagem. Reconheci logo
que o instituto se caracterizava por grande movimento. Entidades insuladas
ou em pequenos grupos iam e vinham, estampando atencioso interesse na
expressão fisionômica. Pareciam sumamente despreocupadas de nossa presença
ali, porque, quando não passavam sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em
profundos pensamentos, iam em grupos afetuosos, alimentando discretas
conversações, multo graves e absorventes, ao que me parecia. Muitos desses
irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam reduzidos rolos de
substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente aos quais não
possuía eu, até então, a mais leve notícia.
Alexandre, porém, como sempre, veio em socorro de minha estranheza,
explicando, bondosamente:
- As entidades sob nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera,
interessados em reencarnações próximas. Nem todos estão diretamente
ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em trabalho de
intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos. Os rolos
brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados
por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos
biológicos da existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do
futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é designado no corpo
carnal, é necessário estabelecer planos adequados aos fins essenciais.
- E a lei da hereditariedade fisiológica? perguntei.
- Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas
sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades
superiores ao ambiente geral. Além do mais, quando o interessado em
experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços
«intercessórios», as forças mais elevadas podem imprimir certas
modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determinando
alterações favoráveis ao trabalho de redenção.
A essa altura da palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor
o limiar.
Achamo-nos, em breve, num dos gabinetes extensos do edifício principal,
aonde um dos numerosos amigos do orientador veio atender-nos
atenciosamente.
Apresentou-me Alexandre ao Assistente Josino, que me recebeu com extrema
gentileza e fidalguia de trato. Esclareceu o instrutor o objetivo de nossa
visita. Desejava me fosse conferida a possibilidade de visitar a
instituição de planejamento, quantas vezes me fosse possível durante a
semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras,
referentemente ao trabalho de auxílio nas atividades reencarnacionistas. O
Assistente prometeu a melhor boa vontade. Conduzir-me-ia a colegas dele,
para que me não faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias
experiências à minha observação, para que eu retirasse delas o máximo
proveito e, por fim, quanto estivesse ao seu alcance, guiaria meus
impulsos no aprendizado.
Felicitavam-me o íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não
só pela recepção carinhosa, senão também pelo ambiente educativo. Não
longe de nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da
estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro modelo
feminino, singularmente belo pela perfeição anatômica, não somente da
forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais diversas glândulas.
Através de disposições elétricas, ambas as figurações palpitavam de vida e
calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e mulheres mais
evolvidos na esfera carnal.
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"Não longe de
nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da
estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro
modelo feminino, singularmente belo pela perfeição anatômica, não
somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais
diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as
figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos,
quais os homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal." - André
Luiz
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Identificando-me a
admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito
de fazer-se ouvido por mim:
- Talvez André não conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao
aparelho físico terrestre.
- Em verdade - ajuntei - ignorava, até agora, que o corpo carnal
fosse, entre nós, objeto de tamanhos cuidados. Não sabia que a nossa
colônia contasse com instituição desse teor.
- Como não, meu amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho
- o corpo físico na Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso
Eterno Pai. Constitui primorosa obra da Sabedoria Divina, em cujo
aperfeiçoamento incessante temos nós a felicidade de colaborar. Quanto
devemos à máquina humana pelos seus milênios de serviço a favor de nossa
elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a extensão de semelhante
débito.
E, fixando os modelos que me provocavam assombro, acentuou:
- Todo o nosso zelo, no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do
quanto deveríamos realizar em benefício do aprimoramento da máquina
orgânica.
Embora hesitante, ousei perguntar:
- Todos os núcleos de espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho
dessa natureza?
Foi Alexandre quem respondeu, com a delicadeza habitual:
- Em todas as colônias de expressão elevada, essas tarefas são
desempenhadas com infinito carinho. O auxílio à reencarnação de
companheiros nossos traduz o nosso reconhecimento ao aparelho físico que
nos tem proporcionado tantos benefícios; através do tempo.
Recordei, porém, que o meu pai terrestre, um dia, voltara à experiência
carnal, procedendo das zonas francamente inferiores, e indaguei:
- E aqueles que regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas,
terão o mesmo generoso auxílio?
Desejando imprimir à pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei:
- Meu genitor, na derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à
esfera carnal em condições bem amargas...
Alexandre interrompeu-me o curso da frase, ponderando:
- Compreendemos. Se for ele criatura de razão esclarecida, embora não
iluminada, permanecia após a morte em estado de queda e não deve ter
voltado à bendita oportunidade da escola física sem o trabalho
«intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de nosso plano. Nesse
caso, terá recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais
altas, que lhe terão endossado as promessas no serviço regenerador. Se ele
foi, porém, criatura em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na
qual não teria regressado em condições amargurosas, contou ele
naturalmente com o abençoado concurso dos trabalhadores espirituais que
velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos reencarnacionistas, em
processos naturais. Em face dos esclarecimentos do instrutor, entendi as
diferenças e tranqüilizei o coração.
Fosse porque a palestra escalpelara melindroso assunto de família humana,
fosse pelo propósito de me deixarem a sós com as minhas profundas
reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o orientador e o assistente
entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos motivos de
conversação para o meu aprendizado.
Passei então a observar detidamente os modelos masculino e feminino, não
longe de meus olhos. Muito gentil Josino pousou a destra, de leve, nos
meus ombros, e falou-me:
- Aproxime-se das criações educativas. Você lucrará muito, observando de
perto.
Não contive um gesto de agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis
amigos, acercando-me das figurações ali expostas. Detive-me na
contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de
linhas, qual arte helênica de sabor antigo.
O modelo, estruturado em substância luminosa, constituía, a meu parecer, a
mais primorosa obra anatômica até então sob minha análise. Semelhava-se
aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa divinal.
Fixei-lhe as minuciosidades com espanto. Nunca vira semelhante perfeição
de minudências fisiológicas. Toda a musculatura estava, ali, formada em
fibras radiosas. Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se
fios de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral.
Determinadas fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular
das pálpebras, no triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectineo,
nas eminências tenar e hipotênar até o extensor dos dedos, eram mais
brilhantes. Do exame de superfície, passei a observações mais profundas,
identificando as disposições maravilhosas das figuras representativas da
circulação linfática e sanguínea. Oh! Os órgãos estavam todos ali,
vibrando em obediência a dispositivos elétricos para demonstrações
educativas. Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz
acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em
cor encarnada.
Surpreendido, rendi silencioso preito de admiração à Sabedoria Divina, que
nos concede o sublime aparelho físico terrestre para as nossas aquisições
eternas.
Impressionava-me a composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do
tronco celíaco, à maneira de pequenos rios de luz, destacando-se em
expressão a luminosidade das cavas superior e inferior, das jugulares
externa e interna, das artérias e veias axilares, da veia porta, das
artérias esplênica e mesentérica superior, da aorta descendente, dos vasos
ilíacos e dos gânglios da virilha.
Cobrindo as maravilhas orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se
a capa radiante estruturada em fios tenuíssimos de luz feérica. A região
do cérebro parecia uma lâmpada em azul suavíssimo, cuja luminosidade se
ligava em sentido direto ao cerebelo, descendo em seguida pela medula
espinhal até o plexo sagrado, onde o foco brilhante adquiria expressão
mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande ciático.
Transferi minhas observações para a forma feminina, igualmente radiosa,
concentrando meu potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto
à maneira de constelação, entre as peças orgânicas. Desde a epífise,
situada entre os hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as
glândulas pareciam formar belo sistema luminoso, semelhante a pequenos
astros de vida, congregados em sentido vertical, qual antena rútila
atraindo a luz procedente de Mais Alto. Cada qual apresentava sua forma
específica, suas expressões vibratórias, suas características
particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora
recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a
pequenino sol azulado, mantendo em seu campo de atração magnética todas as
demais, desde a hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida,
garantindo a coesão e o movimento da sua grande família de planetas e
asteróides.
Minha estupefação não tinha limites.
É forçoso confessar, porém, que minha surpresa se distendia muito mais, ao
fixar os eflúvios brilhantes que emanavam dos centros genitais,
semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário cheio de luz.
Como eu dirigisse ao meu instrutor um olhar de indagação, seus
esclarecimentos não se fizeram esperar.
- Na Crosta - disse-me Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -,
em sentido geral ainda existe muita ignorância acerca da missão divina do
sexo. Para nós, porém, que desejamos valorizar as experiências, a
paternidade e a maternidade terrestres são sagradas. A faculdade criadora
é também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros,
a porta bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera
do Globo, a visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim,
enquanto, para muitos de nós, a visão terrestre significa trabalho
edificante e salutar. Não alcançaremos, porém, a terra prometida do
serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem
e da mulher. Compreendi, com novo espírito, o caráter sublime das energias
sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos os encarnados que ainda
não conseguiram edificar o respeito e o entendimento, relativos aos
sagrados órgãos procriadores. Meu orientador, entretanto, como antena
receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me, bondoso:
- Relegue ao esquecimento qualquer expressão das reminiscências menos
construtivas. Os que ultrajam o sexo, escrevendo, agindo ou falando, já
são grandes infelizes por si mesmos.
Guardei a lição e abençoei a nova experiência que começava.
Despediu-se Alexandre, deixando-me na grande instituição de planejamento,
onde o Assistente Josino, ocupado nos encargos de seu ministério, me
confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos serviços informativos da
casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de gentileza e carinho.
Senti imediatamente que o meu aprendizado ali se iniciava com imenso
proveito. Manassés era um livro volante. Seus pareceres e informes
traduziam valiosos ensinamentos.
Aproximando-nos dos pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores
traçavam planos para reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro
procurado por uma entidade simpática que lhe pedia informações. Manassés
apresentou-ma, otimista. Tratava-se dum colega que, depois de quinze anos
de trabalho nas atividades de auxílio, regressaria à esfera carnal para a
liquidação de determinadas contas. O recém-chegado parecia hesitante.
Via-se-lhe o receio, a indecisão.
- Não se deixe dominar pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a
ele, infundindo-lhe bom ânimo. - O problema do renascimento não é assim
tão intrincado. Naturalmente, exige coragem, boas disposições.
- Entretanto - exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair
novos débitos ao invés de pagar os velhos compromissos. É tão penoso
vencer na experiência carnal, em vista do esquecimento que sobrevém à
encarnação...
- Mas seria muito mais difícil triunfar guardando a lembrança - redargüiu
Manassés, incontinenti.
Prosseguindo, sorridente, acrescentou:
- Se tivéssemos grandes virtudes e belas realizações, não precisaríamos
recapitular as lições já vividas na carne. E se apenas possuímos chagas e
desvios para rememorar, abençoemos o olvido que o Senhor nos concede em
caráter temporário. Esforçou-se o outro para esboçar um sorriso e objetou:
- Conheço-lhe o otimismo; quisera ser igualmente assim. Voltarei confiante
no concurso fraterno de vocês.
E modificando o tom de voz, indagou:
- Pode informar se o meu modelo está pronto? - Creio que poderá procurá-lo
amanhã - tornou Manassés, bem disposto -; já fui observar o gráfico
inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão amorosa dos
amigos bem orientados, sobre o defeito da perna. Certamente, lutará você
com grandes dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe
fará grande bem.
- Sim - disse o outro, algo confortado -, preciso defender-me contra
certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará,
ministrando-me boas preocupações. Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma
sentinela contra a devastação do amor-próprio excessivo.
- Muito bem! - respondeu Manassés, francamente otimista.
- E pode informar-me ainda a média de tempo conferida à minha forma física
futura?
- Setenta anos, no mínimo - redargüiu meu novo companheiro, contente.
O outro fixou uma expressão de reconhecimento, enquanto Manassés
continuava:
- Pondere a graça recebida, Silvério, e, depois de tomar-lhe a posse no
plano físico, não volte aqui antes dos setenta. Trate de aproveitar a
oportunidade. Todos os seus amigos esperam que você volte, mais tarde, à
nossa colônia, na gloriosa condição de um «completista».
O interpelado mostrou um raio de esperança nos olhos, agradeceu e
despediu-se.
As últimas observações de Manassés acenderam-me curiosidade mais forte.
Não contive a indagação que me vagueava no pensamento e perguntei sem
rebuços:
- Meu amigo, que significa a palavra «completista»?
Ele sorriu, complacente, e retrucou, bem-humorado:
- É o título que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as
possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia. Em geral,
quase todos nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades
muito importantes no desperdício das forças fisiológicas. Perambulamos por
lá, fazendo alguma coisa de útil para nós e para outrem, mas, por vezes,
desprezamos cinqüenta, sessenta, setenta per cento e, freqüentemente, até
mais, de nossas possibilidades. Em muitas ocasiões, prevalece ainda,
contra nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida
em atividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o
coração. Aqueles, porém, que mobilizam a máquina física, à maneira do
operário fidelíssimo, conquistam direitos muito expressivos em nossos
planos. O «completista», na qualidade de trabalhador leal e produtivo,
pode escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à
Crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para
o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de
trabalho.
Semelhante notícia representava para mim valiosa revelação. Nada mais
legítimo que dotar o servidor fiel de recursos completos. E lembrei-me dos
desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em
todos os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos
evolutivos, criando laços escravizantes, enraizando-se no apego aos
quadros transitórios da existência material, alimentando enganos e
fantasias, destruindo o corpo e envenenando a alma. Num transporte de
justificada admiração, redargúi:
- Recordando o cativeiro dos Espíritos encarnados no plano da sensação,
consola-nos saber que há um prêmio aos raríssimos homens que vivem na
sublime arte do equilíbrio espiritual, mesmo na carne.
- Sim - disse Manassés, aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que
possa parecer, semelhantes exceções existem no mundo. Passam,
freqüentemente, para cá, entre os anônimos da Crosta, sem fichas de
propaganda terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade superior.
E dando-me a impressão de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele
mesmo, acrescentou:
- Há muitos anos me esforço para conseguir a condição dos «completistas»;
no entanto, até agora continuo em fase de preparação...
Compreendi que Manassés, tanto quanto eu, trazia regular bagagem de
recordações menos felizes, com respeito ao uso que fizera do corpo terreno
nas experiências passadas e procurei modificar a orientação da palestra:
- Sabe de algum «completista» que tenha regressado à Crosta? –
interroguei.
- Sim.
- Naturalmente - continuei, curioso - terá escolhido um organismo
irrepreensível.
Meu novo companheiro mostrou significativa expressão fisionômica e
acentuou:
- Nenhum dos que tenho visto partir, embora os méritos de que se
encontravam revestidos, escolheram formas irrepreensíveis, quanto às
linhas exteriores. Solicitaram providências em favor da existência sadia,
preocupando-se com a resistência, equilíbrio, durabilidade e fortaleza do
instrumento que os deveria servir, mas pediram medidas tendentes a lhes
atenuarem o magnetismo pessoal, em caráter provisório, evitando-se-lhes
apresentação física muito primorosa, ocultando, assim, a beleza de suas
almas para a eficiente garantia de suas tarefas. Assim procedem,
porquanto, vivendo a maioria das criaturas no jogo das aparências, quando
na Crosta Planetária, incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os
missionários do Bem, se lhes conhecessem a verdadeira condição, através
das vibrações destruidoras da inveja, do despeito, da antipatia gratuita e
das disputas injustificáveis. Em vista disso, os trabalhadores
conscientes, na maioria das vezes, organizam seus trabalhos em moldes
exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao influxo das
paixões devastadoras das almas em desequilíbrio.
Entendi a extensão do esclarecimento e meditava na grandeza dos princípios
espirituais que regem a experiência humana, quando Manassés acrescentou,
após longa pausa:
- As mentes juvenis, quais crianças do mundo, brincam com o fogo das
emoções; todavia, os espíritos amadurecidos, mormente quando chegam à
situação de «completistas», abandonam toda experiência que os possa
distrair no caminho de realização da Vontade Divina.
Em seguida, convidado pelo meu novo amigo, penetrei numa das dependências
consagradas aos serviços de desenho. Pequenas telas, demonstrando peças do
organismo humano, estavam ordenadamente em todos os recantos. Tinha a
impressão fiel de que me encontrava num grande centro de anatomistas,
cercados de auxiliares competentes e operosos. Espalhavam-se desenhos de
membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e para
todos os gostos.
- Como sabe - observou Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação
ou de tarefas especializadas na superfície do Globo, a reencarnação nunca
pode ser vulgar. Para isso, trabalham aqui centenas de técnicos em
questões de Embriologia e Biologia em geral, no sentido de orientar as
experiências individuais do futuro de quantos irmãos se ligam a nós no
esforço coletivo.
Sentindo espontânea veneração, contemplei os servidores que se inclinavam
atenciosos, arquitetando o porvir de muitos companheiros. Como era
complexa a oportunidade de renascer! Que atividades intensas exigiam dos
benfeitores espirituais! Ao meu gesto de estranheza, respondeu Manassés
numa síntese expressiva:
- Você não ignora que os homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora
utilizando os recursos sempre sagrados da Natureza, edificam suas
habitações em moldes mais simples e rudimentares; todavia, o homem que já
atingiu certo padrão de ideal, desenvolvendo faculdades superiores,
Constrói o lar, organizando plantas prévias.
Indicando o quadro interior, extremamente movimentado, acrescentou,
sorridente:
- Não estamos aqui senão cogitando, igualmente, de projetos para futuras
habitações carnais. O corpo humano não deixa de ser a mais importante
moradia para nós outros, quando compelidos à permanência na Crosta. Não
podemos esquecer que o próprio Divino Mestre classificava-o como templo do
Senhor,
Impressionado, seguia atenciosamente os trabalhos em curso. Dispúnhamo-nos
a seguir adiante, quando uma irmã, de porte muito respeitável, se
aproximou saudando Manassés afetuosamente. Ele respondeu com gentileza e
apresentou-ma.
- É nossa irmã Anacleta.
Cumprimentei-a, sentindo-lhe a simpatia pessoal.
- Trata-se de uma das nossas trabalhadoras mais corajosas - acentuou o
funcionário do trabalho de informações.
A senhora sorriu, algo contrafeita por se ver focalizada na opinião franca
do companheiro. Todavia, Manassés, com o otimismo que lhe era
característico, prosseguiu:
- Imagine que voltará à Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de
profunda abnegação por quatro entidades que, há mais de quarenta anos, se
debatem em regiões abismais das zonas inferiores.
- Não vejo nisso abnegação alguma - atalhou à senhora, sorrindo -,
cumprirei tão somente um dever.
E fixando-me, desassombrada e serena, asseverou:
- As mães que não completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto
dos filhos amados, devem ser bastante fortes para recomeçarem os serviços
imperfeitos. Esse o meu caso. Não se deve mencionar sacrifício onde existe
apenas obrigação.
Interessava-me a história daquela irmã despretensiosa e simpática e, por
isso mesmo, animei-me a perguntar-lhe:
- Regressará, então, dentro em breve? De qualquer maneira, sua resolução
traduz devotamento e bondade. Não posso esquecer que também minha mãe
voltou ao círculo da carne, tangida por sublime dedicação,
Notei que os olhos dela se encheram de lágrimas discretas, que não
chegaram a cair, emocionada talvez com a minha observação sincera.
Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a idéia de que não desejava
continuar em conversação relativa ao assunto, disse-me, comovida:
- Muito grata pelo conforto de suas palavras. Mais tarde, ao se lembrar de
mim, ajude-me com o seu pensamento amigo.
Nesse ponto da ligeira palestra, Manassés indagou:
- Já recebeu todos os projetos?
- Sim - respondeu ela -, não somente os que se referem aos meus pobres
filhos, mas também a planta relativa à minha própria forma futura.
- Está satisfeita?
- Muitíssimo! - redargüiu a dama. - Na lei do Pai, a justiça está cheia de
misericórdia e continuo na condição de grande devedora.
Em seguida, despediu-se, calma e afável. Manassés compreendeu-me a
curiosidade e explicou:
- Anacleta é um exemplo vivo de ternura e devotamento, mas voltará às
lutas do corpo a fim de operar determinadas retificações no coração
materno. Por imprevidência dela, noutro tempo, os quatro filhos, que o
Senhor lhe confiara, caíram desastradamente. A pobrezinha albergava certas
noções de carinho que não se compadecem com a realidade. Seu esposo era
homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca se esqueceu dos
deveres que lhe prendiam as atividades de homem de bem ao campo da
sociedade em geral. Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva,
mas a esposa, embora devotadíssima, contrariava-lhe a influência do lar,
viciando o afeto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada. E, como
conseqüência indireta, quatro almas não encontraram recursos para a
jornada de redenção. Três rapazes e uma jovem, cuja preparação intelectual
exigira os mais árduos sacrifícios, caíram muito cedo em desregramentos de
natureza física e moral, a pretexto de atenderem a obrigações sociais. E
tão degradantes foram esses desregramentos que perderam muito cedo o
templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições.
Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e
dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação
de si própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas
purificadoras da Crosta.
- Quantos anos gastaram para obter semelhante concessão? - perguntei,
impressionado.
- Mais de trinta.
- Imagino-lhe os sacrifícios futuros! - exclamei.
- Sim - esclareceu Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque
dois dos rapazes deverão regressar na condição de paralíticos, um na
qualidade de débil mental e, para auxiliá-la na viuvez precoce, terá
tão-somente a filha, que, por si mesma, será também portadora de prementes
necessidades de retificação.
Ia dizer de minha profunda surpresa, diante do mecanismo de introdução ao
serviço reencarnacionista, quando outra irmã se acercou de nós, procurando
por Manassés.
Depois das saudações afetivas, explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao
meu novo amigo:
- Desejo sua obsequiosa interferência na retificação do meu plano.
E abrindo pequeno mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um
organismo de mulher, acentuou:
- Veja bem o meu projeto para o sistema endocrínico. Sei que os amigos me
favoreceram, planejando-o com muita harmonia nas menores disposições;
entretanto, desejaria modificações...
- Em que sentido? - indagou o interpelado, r surpreso.
A recém-chegada indicou os pontos do projeto onde se localizava o colo e
falou:
- Fui advertida por benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na
Crosta, dentro de linhas impecáveis para a forma física e, em razão disso,
para que eu tenha mais probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que
me proponho desempenhar, estimaria que a tireóide e as paratireóides não
estivessem tão perfeitamente delineadas. Como sabe, Manassés, minha tarefa
não será fácil. Devo reaver um patrimônio espiritual de grandes
proporções. Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita
harmonia física me perturbaria as atividades.
O novo companheiro endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe:
- Tem razão. A sedução carnal é imenso perigo, não só para aqueles que
emitem a sua influenciação, como também para quantos a recebem. - Prefiro
a fealdade corpórea - tornou ela. - Não estou interessada num corpo de
Vênus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade. Manassés
prometeu interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova
interlocutora, passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de
órgãos do corpo humano.
Admirava, tomado de profunda impressão; aqueles gráficos numerosos que se
alinhavam, com absoluta ordem, demonstrando o cuidado espiritual que
precede o serviço de reencarnações, quando o meu amigo ponderou:
- A medicina humana será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder
compreender a extensão e complexidade dos fatores mentais no campo das
moléstias do corpo físico. Muito raramente não se encontram as afecções
diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados
à ascendência moral. As preocupações excessivas com os sintomas
patológicos aumentam as enfermidades; as grandes emoções po0dem curar o
corpo ou aniquila-lo. Se isso pode acontecer na esfera de atividades
vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos
oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias,
milhares de almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio
da mente. O médico do porvir conhecerá semelhantes verdades e não
circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de indicações
técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às
providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel.
Desejando, porém, prosseguir nos esclarecimentos, quanto ao serviço
reencarnacionista, Manassés tomou pequeno gráfico e, apresentando-me as
linhas gerais, acentuou:
- Aqui temos o projeto de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa
certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide? Isso
indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que
chegue à maioridade física. Trata-se, porém, de escolha dele.
E porque extrema curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou:
- Esse amigo, faz mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando
um pobre homem: a facadas; logo que se entregou ao homicídio, como
acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e
da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu
resultados terríveis por muitos anos. Como não ignora, o ódio recíproco
opera igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a
vingar-se dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques
sistemáticos pelo pensamento mortífero. Em suma, quando o homicida
desencarnou, por sua vez, trazia o organismo perispiritual em dolorosas
condições, além do remorso natural que a situação lhe impusera.
Arrependeu-se do crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de
largos padecimentos purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a
em louváveis serviços de resgate e penitência. Cresceu moralmente,
tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários
agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões. Entretanto...
A dívida permanece. O amor, contudo, transformou o caráter do trabalho de
pagamento. O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em
espetáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura
completa, na carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria
ferida, conquistando, dia a dia, a necessária renovação. Experimentará
desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará
incessantemente, desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no
aparelho fisiológico; entretanto, se souber manter-se fiel aos
compromissos novos, terá atingido, mais tarde, a plena libertação.
Enquanto fixava no projeto minha melhor atenção, Manassés continuava:
- Segundo observamos, a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se
disponha o Espírito a precisa transformação no Senhor, atenua-se o
rigorismo do processo redentor. O próprio Pedro nos lembrou, há muitos
séculos, que «o amor cobre a multidão dos pecados».
Examinei, impressionado, a planta educativa e. porque não encontrasse
palavras bastante claras para pintar minha admiração, silenciei
comovidamente.
Compreendendo-me o estado d’alma, o companheiro continuou:
- São inúmeros os projetos de corpos futuros em nossos setores de serviço.
Depreende-se, da maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas
em trabalho da ingente conquista de si próprias. Ninguém trai a Vontade de
Deus, nos processos evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos
os que tentam enganar a Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam
por enganar a si mesmos. A vida é uma sinfonia perfeita. Quando procuramos
desafiná-la, no círculo das notas que devemos emitir para a sua máxima
glorificação, somos compelidos a estacionar em pesado serviço de
recomposição da harmonia quebrada. E, durante alguns dias, ali permaneci
na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é um
ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu
ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar
os dons da vida «a cada um por suas obras»."
André Luiz
(Do livro "Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, edição
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