INTRODUÇÃO
As manifestações visuais não constituem novidades surgidas
com o Espiritismo. A História relata fatos onde estes fenômenos surgem em povos
e culturas, as mais diversas.
A Bíblia relata com riqueza de detalhes, visões e aparições,
sendo uma das mais conhecidas a de Samuel aparecendo a Saul, esclarecendo-o que
ele, Saul, e seus filhos morreriam no dia seguinte, o que sucedeu logo em
seguida.
No Novo Testamento, Paulo, o vigoroso pregador do Evangelho
aos povos estrangeiros, estimava grandemente a mediunidade e as manifestações
espirituais, que eram praticas usuais entre os cristãos primitivos.
Na Idade Média, domina a fulgurante figura de Joanna D’arc,
a grande médium que se deixou imolar na fogueira por não querer renegar as
vozes espirituais que ouvia e das quais recebia orientação também através de
visões e de aparições.
Allan Kardec no Livro dos Médiuns, estudando as
manifestações visuais, inicia indagando aos Espíritos, no item 100 : "Os
Espíritos podem tornar-se visíveis ?
R : Sim, sobretudo durante o sono; entretanto algumas
pessoas os vêem também durante a vigília, porém é mais raro."
Na questão 19 do mesmo item, Kardec indaga : " A visão
dos espíritos se produz no estado normal ou só estando o vidente num estado
estático ?
R : Pode produzir-se achando-se este em condições
perfeitamente normais. Entretanto, as pessoas que os vêem se encontram muito
amiúde num estado próximo do êxtase, estado que lhes faculta uma espécie de
dupla vista."
Aqui os Espíritos falam da visão espiritual e na questão nº
20, acrescentam : " na realidade é a alma quem vê e o que o prova é que os
podem ver com os olhos fechados."
Na questão 26 : "De que depende, para o homem, a
faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília ?
R : Depende da organização física. Reside na maior ou menor
facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito.
Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que
encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível."
Com estas colocações do Codificador, como introdução a este
estudo, podemos com mais clareza e objetividade, iniciar os comentários sobre a
vidência e a clarividência.
CONCEITO
Existem divergências entre os autores espíritas com respeito
à diferença entre os termos vidência e clarividência. Alguns, usam os dois
termos como sinônimos, entretanto, neste estudo, adotaremos a palavra
"vidência" como percepção mediúnica dos fatos que se passam no plano
espiritual. A vidência é variável, inconstante no próprio médium e dificilmente
duas pessoas apresentarão o mesmo grau de percepção.
VIDÊNCIA = visão de Espíritos ou do plano espiritual provocada
com a intervenção de entidades desencarnadas. Fenômeno mediúnico.
CLARIVIDÊNCIA = visão da dimensão espiritual
resultante da sensibilidade da própria pessoa, sem auxílio dos Espíritos. É
fenômeno anímico.
Esclarecemos que se durante o desdobramento espiritual
houver a participação de um ou mais Espíritos, o fenômeno será misto, ou seja
clarividência com vidência espiritual. Mesmo assim, neste caso, chamaremos de
vidência para evitar maiores confusões. Clarividência será apenas o fenômeno
puramente anímico.
Léon Denis esclarece : "Convém ter o cuidado de
distinguir a clarividência da visão mediúnica. Acontece que sonâmbulos muito
lúcidos, no que se refere aos seres e às coisa deste mundo, são inteiramente
cegos a respeito de tudo o que concerne ao mundo dos Espíritos. O vidente se
acha sob a influência do Espírito que sobre ele opera, visando produzir
determinada manifestação."
Allan Kardec, no item 101, do Livro dos Médiuns, chama de
visões as manifestações visuais que ocorrem durante o sono, através da
emancipação da alma.
Aparições = acontecem no estado de vigília. O médium
vê o Espírito sob a forma diáfana, vaporosa. Em alguns casos, as aparições
poderão ocorrer sob a forma tangível, mas são raras.
"Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito
é invisível e isto ele tem de comum com uma porção de fluidos que sabemos
existirem e que entretanto jamais vimos; mas pode, também, como certos fluidos
sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, seja por uma espécie de
condensação, seja por uma mudança de sua disposição molecular; é então que nos
aparece sob uma forma vaporosa."
A visibilidade dos Espíritos não é um fato comum, nem geral.
"Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não
basta tão pouco que uma pessoa queira vê-lo; é necessário que os dois fluidos
posam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também,
porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante
para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem
ainda outras condições que desconhecemos. É necessário, enfim, que o Espírito
tenha a permissão de se fazer visível a tal pessoa, o que nem sempre lhe é
concedido, ou só o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos
apreciar."
MÉDIUNS VIDENTES
"Os médiuns videntes são dotados de faculdade de ver os
Espíritos. Há os que gozam desta faculdade no estado normal, quando estão
perfeitamente acordados e dela conservam uma lembrança exata; outros não a têm
senão em estado sonambúlico, ou vizinho do sonambulismo."
Allan Kardec chamava médiuns sonambúlicos os "médiuns
inconscientes". a maioria dos fenômenos mediúnicos, no século passado, se
apresentavam desta forma. O "médium" não tinha consciência do que se
passava e esta situação era semelhante à dos sonâmbulos.
Na citação acima :
ESTADO SONAMBÚLICO = ESTADO DE TRANSE.
Allan Kardec, considerava médiuns videntes todas as pessoas
dotadas de segunda vista, isto é, a possibilidade de ver Espíritos com os olhos
fechados ou abertos, ou seja, com os olhos materiais ou com percepção
espiritual.
Dr. Jorge Andréa nos esclarece : " A vidência, que
poderá ter imensos graus de intensidade perceptiva, manifesta-se com dois
aspectos bastante característicos :
1. por intermédio da visão ocular, atingindo as células mais
sensíveis da retina que são as da situação lateral.
2. quando o globo ocular não participa da visão
mediúnica e a percepção visual dar-se-á dentro do cérebro."
Explica-nos o conceituado escritor espírita que os centros
nervosos da visão são afetados pelas vibrações perceptivas. Os trajetos
nervosos que deságuam nos centros visuais ou zonas especiais do perispírito
passam as "impressões" aos centros da zona consciente. Seria este
mecanismo da visão espiritual ou segunda vista a que se refere Kardec e outros
estudiosos dos fenômenos mediúnicos.
APARIÇÕES ACIDENTAIS
Há que se discutir as aparições acidentais da vidência
propriamente dita.
Aparições acidentais seriam aquelas que não têm caráter
permanente. As pessoas vêem os Espíritos em determinadas circunstâncias e são
geralmente, de caráter individual. Podemos citar, como exemplos :
- Aparições de pessoas que estando no momento da morte, vão
avisar aos parente e amigos;
- Avisos de perigos iminentes;
- Aconselhamento a amigos ou solicitação de um favor,
geralmente algo que não puderam concluir em vida.
"A faculdade consiste na possibilidade, senão
permanente, pelo menos freqüente de ver o primeiro Espírito que aparece, mesmo
aquele que nos é totalmente desconhecido. É esta faculdade que constitui,
propriamente falando, os médiuns videntes."
OPORTUNIDADE DE
DESENVOLVIMENTO DA VIDÊNCIA
"A vidência se desenvolve pelo exercício ?
"A faculdade de ver os Espíritos pode, sem dúvida,
desenvolver-se, mas é uma das de que convém esperar o desenvolvimento natural,
sem o provocar, em não se querendo ser joguete da própria imaginação. Quando o
gérmen de uma faculdade existe, ela se manifesta de si mesma."
"A de ver os espíritos, em geral e permanentemente,
constitui uma faculdade excepcional e não está nas condições do homem."
Não devemos provocar o desenvolvimento da vidência e sim
deixar que ela flua normalmente, de forma espontânea e natural. Por ser uma
faculdade rara e de difícil constatação, apresentando imensa variedade de
impressões percebidas pelo médium que de alguma forma interfere no fenômeno,
devemos agir com cautela e prudência, analisando criteriosamente os relatos e
as descrições, principalmente nas reuniões mediúnicas.
"Um enorme grupo de pessoas tem predileção especial por
dizer-se vidente, como se a vidência fosse a percepção que lhe abrisse as
portas do prestígio, da fama, conferindo importância ao seu detentor, sem
atinar com o ônus da responsabilidade que pesa sobre os ombros dos que têm os
olhos abertos para o invisível, uma vez que as entidades banais não perdoam
aqueles que lhes devassam os domínios da atuação, graças à vidência
mediúnica."
ESTÁGIOS OU GRAUS DE
PERCEPÇÃO NOS MÉDIUNS VIDENTES
"A impressão produzida nos videntes variava de modo
muito sensível, conforme o desenvolvimento das faculdades mediúnicas ou o
adiantamento dos Espíritos. Onde uns só distinguiam um ponto brilhante, uma
chama, outro via uma forma radiosa."
No que se refere ao desenvolvimento da faculdade ou
percepção mediúnica, a vidência dificilmente será percebida de igual maneira
por dois ou três médiuns que estejam no mesmo ambiente. O benfeitor espiritual
Áulus, na obra de André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, nos diz : "O
círculo de percepção varia em cada um de nós. O médium é sempre alguém dotado
de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem os horizontes dos
sentidos."
Áulus cita o exemplo da lâmpada que emite claridade lirial
em jato contínuo, mas se essa claridade for filtrada por focos múltiplos de
diferentes cores e variadas potências, certamente estará submetida a estas
diferenciações, embora seja a mesma lâmpada ...
"O fenômeno mediúnico é como a claridade da lâmpada :
sendo o mesmo, pode ser observado ou interpretado de vários modos, segundo a
filtragem mental de cada medianeiro."
Cada médium vidente irá expressar através da sua mediunidade
aquilo que realmente perceber de acordo com sua capacidade de registro das
vibrações captadas pelo perispírito e enviadas às zonas de seu cérebro. Diz-nos
André Luiz : "Atuando sobre os raios mentais do medianeiro, o desencarnado
transmite-lhe quadros e imagens, valendo-se dos centros autônomos da visão
profunda, localizados no diencéfalo. Tanto mais perfeitamente quanto mais
intensamente as verifique a complementação vibratória nos quadros de freqüência
das ondas, ocorrências essas nas quais se afigura ao médium possuir um espelho
na intimidade dos olhos."
CONCLUSÃO
Analisando as ponderações de Allan Kardec : "Quando o
gérmem de uma faculdade existe, ela se manifesta em si mesma. em princípio,
devemos contentar-nos com as que Deus nos deu sem procurar o impossível, por
isso que, pretendendo ter muito, arriscamo-nos a perder o que possuímos."
Devemos agir com critério e observar se as narrações dos
médiuns videntes são coerentes e, se, principalmente, são benéficas e úteis ao
trabalho desenvolvido. Se estão atendendo aos objetivos reais da atividade
mediúnica, porque "são raros os médiuns videntes propriamente ditos e
devemos desconfiar daqueles que pretendem gozar desta faculdade em caráter
permanente e duradouro."
Informações Complementares:
1. Fontes de Consultas: O Livro dos Espíritos - Allan Kardec; O Livro dos Médiuns - Allan Kardec; Obras (diversas) da Doutrina Espírit
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