Emoção e Espiritismo
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3.
Considerações Iniciais. 4. Emoção: 4.1. Emotividade; 4.2. Alguns Tipos de
Emoção; 4.3. Tensão entre Sentir e Expressar. 5. Emoção, Paixão e Razão: 5.1.
Origem da paixão; 5.2. Paixão: Boa ou Má?; 5.3. Emoção versus Razão. 6. Emoção e
Doutrina Espírita: 6.1. A Excitação Cerebral; 6.2. Cuidar do Corpo e do
Espírito; 6.3. Ferramentas Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1.
INTRODUÇÃO
Um
estado de desequilíbrio emocional poderá nos trazer dificuldades para a harmonia
familiar, a convivência no emprego e o relacionamento com o próximo.
Pergunta-se: o que se entende por emoção? Qual a sua natureza? Quais são
os tipos de emoção? As emoções são boas ou más? Que influência o Espiritismo
exerce sobre as emoções?
2.
CONCEITO
Emoção
– Designa, na psicologia moderna, um estado da mesma natureza com o sentimento,
mas muito mais forte que ele, pois surge de improviso e, durante certo período
de tempo, impõe-se ao espírito, paralisando a associação livre e natural das
representações.
Canus
acrescenta: “Creio que a emoção deve ser distinguida do sentimento pela sua
maior complexidade, no sentido que, enquanto no sentimento o homem é excitado
por uma simples percepção sensorial, na emoção é excitado por um complexo
ideológico”. (Monaco, 1967, p. 34)
É o
reverbero cortical do fenômeno perceptivo que ocorre na subcorticalidade, em
nível subliminar, e só posteriormente se delineia na consciência – no córtex –
assumindo a forma de conhecimento propriamente dito. (Equipe da Feb, 1995)
Paixão
– Do grego pathos, pena. Significa a disposição para receber alterações
ou comoções mais ou menos vivas e com elas corresponder. São reações às emoções,
produzidas por causas externas e internas. Inicialmente passiva, torna-se ativa
quando espontaneamente a elas adere e quase coopera com elas.
3.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
As
emoções são os determinantes de nossas ações, tanto para o bem quanto para o
mal. Às vezes elas nos incitam a produzir muito e outras vezes inibem todos os
nossos campos da vontade. Hoje, costuma-se apelar muito para os sentimentos
emocionais das pessoas, principalmente para a compra deste ou daquele produto.
A emoção
faz parte do indivíduo, mas é fortemente influenciada pela sociedade, por suas
regras e seus costumes. Observe que muitos governos querem ditar normas de
conduta aos seus cidadãos.
Há também
aquilo que sentimos particularmente, mas que não podemos expressá-lo em público,
pois morreríamos de vergonha.
Caso não
tenhamos força de vontade, acabamos nos desviando do nosso projeto de vida,
porque não soubemos controlar os nossos estados emotivos. O que dá prazer nem
sempre é o que deve ser seguido. O importante para o consumo pode ser um péssimo
negócio para o nosso crescimento moral e espiritual.
4.
EMOÇÃO
4.1.
EMOTIVIDADE
Emotividade é a reação excessiva diante de um acontecimento, idéia ou
sensação. Podemos distingui-la: sentimento, emoção e paixão.
No
sentimento, nossas reações permanecem organizadas, reguladas e
controladas;
Na
emoção, há descontrole; não conseguimos organizá-las ou regulá-las;
Na
paixão, temos um sentimento superdesenvolvido a expensas de outros,
exaltado, que nos pode conduzir ou a grandes realizações ou a grandes quedas,
segundo seu teor. (Curti, 1980, p. 44)
4.2.
ALGUNS TIPOS DE EMOÇÃO
Raiva – Sentimento
violento de ódio ou de rancor. Quando alguém se sente enraivecido toma atitudes
violentas. Por exemplo, atirar em alguém.
Termos correlatos: fúria,
revolta, ressentimento, exasperação, indignação vexame, animosidade,
aborrecimento, irritabilidade e hostilidade.
Medo – Fenômeno
psicológico marcado pela consciência de um perigo ou objeto ameaçador
determinado e identificável. Nessa situação, o sangue corre para todos os
músculos mais rapidamente permitindo a fuga e movimentos rápidos.
Termos correlatos:
ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo,
inquietação, pavor, susto, terror e, como psicopatologia, fobia e pânico.
Amor
– É a totalidade dos sentimentos e desejos que estruturam o pensamento para a
liberação de energia e de forças que guiam a ação na produção do bem e
possibilitam a aquisição de qualidades, constituintes do crescimento do
Espírito. Provoca um estado geral de calma e satisfação, facilitando a
cooperação entre os seres humanos.
Termos
correlatos: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração,
paixão, ágape (caridade).
Felicidade – Em geral, é
um estado de satisfação devido à própria situação do mundo. Inibe o aparecimento
de sentimentos negativos e favorece o aumento da energia existente.
Termos correlatos:
alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual,
emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e,
no extremo, mania.
Tristeza – Estado afetivo
duradouro em que a consciência se vê invadida por um doloroso sentimento de
insatisfação, sendo acompanhada de uma ideia de desvalorização da existência e
do real. A tristeza acarreta uma perda de energia e de entusiasmo pelas
atividades da vida, em particular por diversões e prazeres. Quando a tristeza é
profunda aproxima-se de depressão.
Termos correlatos:
sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão,
desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão.
4.3. TENSÃO ENTRE SENTIR E EXPRESSAR
4.3. TENSÃO ENTRE SENTIR E EXPRESSAR
Há, no
indivíduo, uma acepção interna e particular, que se distingue da sua
apresentação pública. Suponha a corrupção: internamente, o sujeito é contra,
pois o seu valor moral a reprime veemente. Na vida pública, é obrigado a
conviver com ela, o que lhe causa uma grande tensão entre os seus sentimentos de
pureza, de honestidade, de ético, com aqueles que é obrigado a enfrentar no seu
dia a dia.
5.
EMOÇÃO, PAIXÃO E RAZÃO
5.1.
ORIGEM DA PAIXÃO
As
paixões têm origem na emoção. Pode-se dizer que a paixão é um sentimento mais
duradouro do que a própria emoção. É um movimento da alma que nos arrasta pra
fora do nosso estado normal, provocado ou pela atração de um bem que se ama, ou
pela repulsa de um mal do qual se foge. Paixão é um desejo que não permite
outros. Rousseau dizia: “Todas as nossas paixões são boas quando nos tornam
senhores; todas são más quando nos tornam escravos”. Descuret acrescenta: “necessidades
desregradas que geralmente começam por nos seduzir para acabar
tiranizando-nos”. (Mônaco, 1967, p. 39)
5.2.
PAIXÃO: BOA OU MÁ?
A paixão,
se não for guiada para o bem, pode se descambar para mal. Os atos e os
movimentos das paixões são sempre acompanhados por um distúrbio físico no
organismo. A emoção é, inicialmente, orgânica, porque é a resposta a uma
sensação. No caso da paixão, é aquele ímpeto do nosso ser para realizar alguma
coisa, que geralmente emprestamos um valor extraordinário.
5.3.
EMOÇÃO VERSUS RAZÃO
Agimos
mais em função da emoção do que da razão. Observe um torcedor de futebol. Mesmo
que seu time seja mais fraco do que o do adversário, ele tem que ganhar de
qualquer jeito. Caso seu time não vença, o torcedor acaba xingando o juiz,
correndo atrás dos jogadores e punindo-os com as próprias mãos.
A fé é um
sentimento do coração, portanto emocional. Ele precisa ser melhorado, trabalhado
segundo a razão, para que não se transforme em fé cega, que pode gerar o
fanatismo. Não é sem razão que Allan Kardec escreveu no início de O Evangelho
Segundo o Espiritismo:
“Não
há fé inabalável senão aquela que pode encarar frente a frente a
razão, em todas as épocas da
humanidade”.
6.
EMOÇÃO E DOUTRINA ESPÍRITA
6.1. A
EXCITAÇÃO CEREBRAL
As
decepções, os infortúnios e as afeições contrariadas excitam sobremaneira o
nosso cérebro, sendo as causas mais freqüentes de suicídio. “Ora, o verdadeiro
espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado; elas lhe
parecem tão pequenas, tão mesquinhas, a par do futuro que o aguarda; a vida se
lhe mostra tão curta, tão fugaz, que, aos seus olhos, as tribulações não passam
de incidentes desagradáveis, no curso de uma viagem. O que, em outro, produziria
violenta emoção, mediocremente o afeta”. (Kardec, 1995, Introdução, item 15)
6.2.
CUIDAR DO CORPO E DO ESPÍRITO
Devemos
cuidar do corpo e do Espírito. Os dois estão de tal modo inter-relacionados que
não podemos nos dar ao luxo das fortes emoções sem as respectivas consequências
para o nosso estado espiritual. Observe a obsessão. Ela acontece porque nos
desregramos com alimentação, os prazeres e outras excitações da carne, com
coisas que nos trazem a influência desses Espíritos menos felizes.
6.3.
FERRAMENTAS ESPÍRITAS
A
Doutrina Espírita oferece-nos as ferramentas racionais para enfrentarmos
qualquer tipo de problema, inclusive os de cunho emocional, que nos fazem entrar
em contato com Espíritos inferiores. Estes se aproveitam de nossa fraqueza
momentânea para nos incutir o remorso, o medo, a raiva e outros tipos de
emoções, que devemos defender com a prece e os pensamentos voltados para o bem.
7.
CONCLUSÃO
Saibamos
dosar emoção, paixão e razão. Caso estejamos em dúvida, conclamemos a presença
dos benfeitores do espaço, para nos guiar no caminho do bem e da verdade.
8.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CURTI, R. Espiritismo e Evolução. São Paulo: Feesp, 1980.
EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.
MONACO, Nicola. As Paixões e os Caracteres. Tradução de Miguel Zaupa. 2.
ed. São Paulo: Paulinas, 1967. (Psicologia Maior)
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