domingo, 25 de novembro de 2012

O que esta por dentro.


Por dentro é lançado fora
Uma forma de evitar claramente que sensações, pensamentos, impulsos ou lembranças cheguem ao nosso consciente tem o nome de transferência ou projeção.

Projetar nossas ações e emoções nos outros, agindo como se elas não nos pertencessem, e recusar nosso mundo íntimo, não aceitando as coisas em nós como elas realmente são, pode se tornar um constante “acessório psicológico”, um processo preferencial do ego.

O método para projetarmos nossa vida íntima em outra pessoa funciona de certa forma em duas etapas: negação e deslocamento.

Primeiro um fato ou acontecimento que provoca um sentimento inadequado é negado, bloqueado do consciente e deslocado para o mundo externo. Tomemos por exemplo: um indivíduo que num determinado momento da vida teve um desentendimento com uma pessoa e desenvolveu um sentimento de antipatia e aversão por ela pode, posteriormente, julgar que superou as diferenças e que aquele episódio é uma “página virada”. No entanto, ele não consegue perceber que sua emoção pode ter sido inconscientemente projetada sob forma de uma suposta antipatia e aversão dessa pessoa por ele. O que estava dentro foi jogado para fora.

Uma vez que é atribuída a outras criaturas, a sensação de aversão é notada como completamente alheia, não nos pertence, não nos diz respeito. É, simplesmente, de outrem; jamais nossa. Nós somos bons perdoamos, mas os outros são maus, rancorosos e não perdoam.

“Assim são os homens. É como se lhes tivessem colocado dois alforjes: no peito, o alforje com os males alheios, e nas costas, o alforje com os próprios males. De tal modo que eles são cegos quanto aos próprios defeitos, mas enxergamos com nitidez os defeitos dos outros.”

É comum encontrar no dia-a-dia indivíduos que apresentam comportamentos idêntico. Ao invés de se dedicarem à tarefa de conscientização da própria vida íntima, evidenciam o argueiro no olho do vizinho e, por conseqüência, potencializam a trave que lhes obscurece a visão do mundo interior.

As mentiras que mais nos causam danos e nos impedem o crescimento espiritual não são tanto as que verbalizamos, mas as que contamos inconscientemente para nós, aquelas que projetamos.

Vivemos ilusões quando desfiguramos a realidade de nossa experiência ou a verdade de nosso ser e adotamos um “papel” que não corresponde à verdade. Apresentamos aqui o que em linguagem informal denominamos “máscaras”: são elas que turvam nossa verdadeira realidade interior; é delas que nos servimos para lançar fora o que está em nossa intimidade.

Projetamos e interpretamos papéis quando nossas reivindicações internas (processos psíquicos fortemente emocionais, impulsivos e basicamente irracionais) entram em choque com as regras e normas sociais, passando do campo da consciência para o da inconsciência.

Representamos como se fôssemos verdadeiros atores, interpretando uma personagem no palco ou no cinema, quando nos colocamos diante de alguém como sendo mais do que somos; quando dissimulamos um amor ou um desinteresse que não sentimos; quando nos mostramos alegres, e na realidade estamos tristes; quando aparentamos uma frieza que não experimentamos; quando escondemos e mantemos em segredo tudo aquilo que mais queremos e desejamos; quando aderimos a associações de caráter recreativo, cultural, artístico, religioso, político e social, etc., para obter benefícios eu não merecemos, recebendo elogios e reconhecimento.

O crescimento pessoal exige, acima de tudo, coerência, o que significa que o Si-mesmo (Self é inglês) deve estar numa relação harmônica entre o que se sente e o que se vive; deve haver uma identidade ou semelhança entre as partes de um todo.

Por que falsificamos nossa realidade? Afinal, o que conseguimos com isso? Danificamos nossa própria intimidade e atravessamos toda uma existência com a angustiante sensação de sermos impostores ou farsantes. Além disso, vivemos aprisionados à angústia e ao medo de um dia descobrirmos quem realmente somos.

O alvorecer do despertar manifesta-se no ser amadurecido quando a luz d consciência ilumina não apenas as áreas externas, mas, acima de tudo, as internas. Muitos indivíduos s satisfazem apenas por possuírem os olhos físicos, que lhes oferecem uma visão parcial ou incompleta da vida. Mas para vermos as coisas tais como são, é preciso desenvolver a acuidade do olho que esclarece, ilumina e guia — aquele voltado para o mundo íntimo. A partir daí, cessamos de projetar de forma contínua.

Como todos os nossos companheiros de viagem transcendental, desejamos preencher ou compensar o vazio existencial que sentimos por não vivermos a essencialidade de nosso ser.

“(...) Deus suprirá todas as suas necessidades de acordo com as riquezas de sua glória...”

Nossos anseios de ser e de possuir alguma coisa são, no fundo, a compensação da falta de não termos quase nenhuma consciência do que somos e nem para que fomos criados. Pense nisso.

 


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