domingo, 18 de março de 2012

Videncia e clarividencia



INTRODUÇÃO
As manifestações visuais não constituem novidades surgidas com o Espiritismo. A História relata fatos onde estes fenômenos surgem em povos e culturas, as mais diversas.
A Bíblia relata com riqueza de detalhes, visões e aparições, sendo uma das mais conhecidas a de Samuel aparecendo a Saul, esclarecendo-o que ele, Saul, e seus filhos morreriam no dia seguinte, o que sucedeu logo em seguida.
No Novo Testamento, Paulo, o vigoroso pregador do Evangelho aos povos estrangeiros, estimava grandemente a mediunidade e as manifestações espirituais, que eram praticas usuais entre os cristãos primitivos.
Na Idade Média, domina a fulgurante figura de Joanna D’arc, a grande médium que se deixou imolar na fogueira por não querer renegar as vozes espirituais que ouvia e das quais recebia orientação também através de visões e de aparições.
Allan Kardec no Livro dos Médiuns, estudando as manifestações visuais, inicia indagando aos Espíritos, no item 100 : "Os Espíritos podem tornar-se visíveis ?
R : Sim, sobretudo durante o sono; entretanto algumas pessoas os vêem também durante a vigília, porém é mais raro."
Na questão 19 do mesmo item, Kardec indaga : " A visão dos espíritos se produz no estado normal ou só estando o vidente num estado estático ?
R : Pode produzir-se achando-se este em condições perfeitamente normais. Entretanto, as pessoas que os vêem se encontram muito amiúde num estado próximo do êxtase, estado que lhes faculta uma espécie de dupla vista."
Aqui os Espíritos falam da visão espiritual e na questão nº 20, acrescentam : " na realidade é a alma quem vê e o que o prova é que os podem ver com os olhos fechados."
Na questão 26 : "De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília ?
R : Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível."
Com estas colocações do Codificador, como introdução a este estudo, podemos com mais clareza e objetividade, iniciar os comentários sobre a vidência e a clarividência.

CONCEITO
Existem divergências entre os autores espíritas com respeito à diferença entre os termos vidência e clarividência. Alguns, usam os dois termos como sinônimos, entretanto, neste estudo, adotaremos a palavra "vidência" como percepção mediúnica dos fatos que se passam no plano espiritual. A vidência é variável, inconstante no próprio médium e dificilmente duas pessoas apresentarão o mesmo grau de percepção.
VIDÊNCIA = visão de Espíritos ou do plano espiritual provocada com a intervenção de entidades desencarnadas. Fenômeno mediúnico.
CLARIVIDÊNCIA = visão da dimensão espiritual resultante da sensibilidade da própria pessoa, sem auxílio dos Espíritos. É fenômeno anímico.
Esclarecemos que se durante o desdobramento espiritual houver a participação de um ou mais Espíritos, o fenômeno será misto, ou seja clarividência com vidência espiritual. Mesmo assim, neste caso, chamaremos de vidência para evitar maiores confusões. Clarividência será apenas o fenômeno puramente anímico.
Léon Denis esclarece : "Convém ter o cuidado de distinguir a clarividência da visão mediúnica. Acontece que sonâmbulos muito lúcidos, no que se refere aos seres e às coisa deste mundo, são inteiramente cegos a respeito de tudo o que concerne ao mundo dos Espíritos. O vidente se acha sob a influência do Espírito que sobre ele opera, visando produzir determinada manifestação."
Allan Kardec, no item 101, do Livro dos Médiuns, chama de visões as manifestações visuais que ocorrem durante o sono, através da emancipação da alma.
Aparições = acontecem no estado de vigília. O médium vê o Espírito sob a forma diáfana, vaporosa. Em alguns casos, as aparições poderão ocorrer sob a forma tangível, mas são raras.
"Por sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível e isto ele tem de comum com uma porção de fluidos que sabemos existirem e que entretanto jamais vimos; mas pode, também, como certos fluidos sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, seja por uma espécie de condensação, seja por uma mudança de sua disposição molecular; é então que nos aparece sob uma forma vaporosa."
A visibilidade dos Espíritos não é um fato comum, nem geral.
"Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se; não basta tão pouco que uma pessoa queira vê-lo; é necessário que os dois fluidos posam combinar-se, que entre eles haja uma espécie de afinidade e também, porventura, que a emissão do fluido da pessoa seja suficientemente abundante para operar a transformação do perispírito e, provavelmente, que se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos. É necessário, enfim, que o Espírito tenha a permissão de se fazer visível a tal pessoa, o que nem sempre lhe é concedido, ou só o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar."

MÉDIUNS VIDENTES
"Os médiuns videntes são dotados de faculdade de ver os Espíritos. Há os que gozam desta faculdade no estado normal, quando estão perfeitamente acordados e dela conservam uma lembrança exata; outros não a têm senão em estado sonambúlico, ou vizinho do sonambulismo."
Allan Kardec chamava médiuns sonambúlicos os "médiuns inconscientes". a maioria dos fenômenos mediúnicos, no século passado, se apresentavam desta forma. O "médium" não tinha consciência do que se passava e esta situação era semelhante à dos sonâmbulos.
Na citação acima :
ESTADO SONAMBÚLICO = ESTADO DE TRANSE.
Allan Kardec, considerava médiuns videntes todas as pessoas dotadas de segunda vista, isto é, a possibilidade de ver Espíritos com os olhos fechados ou abertos, ou seja, com os olhos materiais ou com percepção espiritual.
Dr. Jorge Andréa nos esclarece : " A vidência, que poderá ter imensos graus de intensidade perceptiva, manifesta-se com dois aspectos bastante característicos :
1. por intermédio da visão ocular, atingindo as células mais sensíveis da retina que são as da situação lateral.
2. quando o globo ocular não participa da visão mediúnica  e a percepção visual dar-se-á dentro do cérebro."
Explica-nos o conceituado escritor espírita que os centros nervosos da visão são afetados pelas vibrações perceptivas. Os trajetos nervosos que deságuam nos centros visuais ou zonas especiais do perispírito passam as "impressões" aos centros da zona consciente. Seria este mecanismo da visão espiritual ou segunda vista a que se refere Kardec e outros estudiosos dos fenômenos mediúnicos.

APARIÇÕES ACIDENTAIS
Há que se discutir as aparições acidentais da vidência propriamente dita.
Aparições acidentais seriam aquelas que não têm caráter permanente. As pessoas vêem os Espíritos em determinadas circunstâncias e são geralmente, de caráter individual. Podemos citar, como exemplos :
- Aparições de pessoas que estando no momento da morte, vão avisar aos parente e amigos;
- Avisos de perigos iminentes;
- Aconselhamento a amigos ou solicitação de um favor, geralmente algo que não puderam concluir em vida.
"A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos freqüente de ver o primeiro Espírito que aparece, mesmo aquele que nos é totalmente desconhecido. É esta faculdade que constitui, propriamente falando, os médiuns videntes."

OPORTUNIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA VIDÊNCIA
"A vidência se desenvolve pelo exercício ?
"A faculdade de ver os Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma das de que convém esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser joguete da própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela se manifesta de si mesma."
"A de ver os espíritos, em geral e permanentemente, constitui uma faculdade excepcional e não está nas condições do homem."
Não devemos provocar o desenvolvimento da vidência e sim deixar que ela flua normalmente, de forma espontânea e natural. Por ser uma faculdade rara e de difícil constatação, apresentando imensa variedade de impressões percebidas pelo médium que de alguma forma interfere no fenômeno, devemos agir com cautela e prudência, analisando criteriosamente os relatos e as descrições, principalmente nas reuniões mediúnicas.
"Um enorme grupo de pessoas tem predileção especial por dizer-se vidente, como se a vidência fosse a percepção que lhe abrisse as portas do prestígio, da fama, conferindo importância ao seu detentor, sem atinar com o ônus da responsabilidade que pesa sobre os ombros dos que têm os olhos abertos para o invisível, uma vez que as entidades banais não perdoam aqueles que lhes devassam os domínios da atuação, graças à vidência mediúnica."

ESTÁGIOS OU GRAUS DE PERCEPÇÃO NOS MÉDIUNS VIDENTES
"A impressão produzida nos videntes variava de modo muito sensível, conforme o desenvolvimento das faculdades mediúnicas ou o adiantamento dos Espíritos. Onde uns só distinguiam um ponto brilhante, uma chama, outro via uma forma radiosa."
No que se refere ao desenvolvimento da faculdade ou percepção mediúnica, a vidência dificilmente será percebida de igual maneira por dois ou três médiuns que estejam no mesmo ambiente. O benfeitor espiritual Áulus, na obra de André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, nos diz : "O círculo de percepção varia em cada um de nós. O médium é sempre alguém dotado de possibilidades neuropsíquicas especiais que lhe estendem os horizontes dos sentidos."
Áulus cita o exemplo da lâmpada que emite claridade lirial em jato contínuo, mas se essa claridade for filtrada por focos múltiplos de diferentes cores e variadas potências, certamente estará submetida a estas diferenciações, embora seja a mesma lâmpada ...
"O fenômeno mediúnico é como a claridade da lâmpada : sendo o mesmo, pode ser observado ou interpretado de vários modos, segundo a filtragem mental de cada medianeiro."
Cada médium vidente irá expressar através da sua mediunidade aquilo que realmente perceber de acordo com sua capacidade de registro das vibrações captadas pelo perispírito e enviadas às zonas de seu cérebro. Diz-nos André Luiz : "Atuando sobre os raios mentais do medianeiro, o desencarnado transmite-lhe quadros e imagens, valendo-se dos centros autônomos da visão profunda, localizados no diencéfalo. Tanto mais perfeitamente quanto mais intensamente as verifique a complementação vibratória nos quadros de freqüência das ondas, ocorrências essas nas quais se afigura ao médium possuir um espelho na intimidade dos olhos."

CONCLUSÃO
Analisando as ponderações de Allan Kardec : "Quando o gérmem de uma faculdade existe, ela se manifesta em si mesma. em princípio, devemos contentar-nos com as que Deus nos deu sem procurar o impossível, por isso que, pretendendo ter muito, arriscamo-nos a perder o que possuímos."
Devemos agir com critério e observar se as narrações dos médiuns videntes são coerentes e, se, principalmente, são benéficas e úteis ao trabalho desenvolvido. Se estão atendendo aos objetivos reais da atividade mediúnica, porque "são raros os médiuns videntes propriamente ditos e devemos desconfiar daqueles que pretendem gozar desta faculdade em caráter permanente e duradouro."

Informações Complementares:
1. Fontes de Consultas: O Livro dos Espíritos - Allan Kardec; O Livro dos Médiuns - Allan Kardec; Obras (diversas) da Doutrina Espírit

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