terça-feira, 25 de outubro de 2011

Somos todos mediuns?



Nos últimos tempos, diz o Senhor, espalharei do meu espírito por sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos jovens terão visões e vossos velhos terão sonhos. - Nesses dias, espalharei do meu espírito sobre os meus servidores e servidoras e eles profetizarão. (Atos, cap. II, vv. 17 a 18. - Joel, cap. II, vv. 28 e 29.)



Inicialmente, é necessário que apresentemos a definição do que seja um médium, pois, sem isso, não há como responder à questão proposta no título. Assim sendo, vejamos, primeiramente, como o Espírito Erasto definiu esse termo:
É o ser, indivíduo que serve de intermediário aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens, espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer espécie que seja. (KARDEC, 2006a, p. 212).
Kardec, por sua vez, nos explica dessa forma:
MÉDIUM (do lat. Médium, meio, intermediário): pessoas acessíveis à influência dos Espíritos, e mais ou menos dotadas da faculdade de receber e transmitir suas comunicações. Para os Espíritos, o médium é um intermediário; é um agente ou um instrumento mais ou menos cômodo, segundo a natureza ou o grau da faculdade mediúnica. Esta faculdade depende de uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento. Distinguem-se diversas variedades de médiuns, segundo sua aptidão particular para tal ou tal modo de transmissão, ou tal gênero de comunicação. (KARDEC, 1986, p. 196-197).
Resumindo-a, numa outra oportunidade, o mestre de Lion disse-nos que: “Os médiuns são as pessoas aptas a receberem a influência dos Espíritos e transmitirem os seus pensamentos”. (KARDEC, 2006c, p. 62).
Em que pese a origem dessas duas definições, entendemos que lhes falta abrangência, porquanto não deveria o seu conceito se restringir à relação entre os homens e os Espíritos desencarnados. Por que estamos dizendo isso? Pelo simples fato de que há vários relatos de experiências com evocação de Espíritos de pessoas vivas, ocorridas nas sessões da Sociedade Espírita de Paris, conforme se lê na Revista Espírita. Julgamos que esses casos estariam fora da definição clássica, pois o termo “Espírito” está se referindo aos já desencarnados. Por outro lado, aceitando-se o que narra André Luiz, dando notícias de reuniões mediúnicas no plano espiritual, nesse caso teríamos a existência dos Espíritos-médiuns, que servem de intermediários a outros de esferas mais elevadas, às quais se encontram vinculados, conforme podemos apreender nas suas obras, situações também não contempladas na definição original.
Além disso, poderíamos destacar que a condição dele ser ou servir de “intermediário” complica um pouco a definição, haja vista, que um médium pode receber uma comunicação para ele mesmo, e aí não teríamos, a rigor, essa função, a não ser que aceitemos que, nesse caso, ele, o médium, esteja sendo intermediário para si mesmo, digamos assim, hipótese que aceitamos sem problema algum.
Ademais, uma pessoa que recebendo a influência de Espíritos, e não conseguindo perceber este fato, não seria, segundo essas definições, propriamente um médium? Então, seria o quê? Segundo nosso modo de ver, a conjuntura nos recomenda ampliar o atual conceito visando dar-lhe uma abrangência maior, de forma que possa abrigar todos os casos. Assim, poderíamos dizer que médium seria o Espírito, encarnado ou não, que consegue captar ou sentir o pensamento de um outro, pouco importando a condição desse outro estar num corpo ou fora dele. O único aspecto condicionante seria de não estarem, o emissor e o captador, no mesmo plano dimensional, no qual o processo de comunicação habitual seja a transmissão de pensamento.
É certo que estamos avançando um pouco na definição, indo além do que consta nas obras da codificação, o que poderá causar espécie em algumas pessoas; mas justificamos, lembrando o que Kardec disse numa certa ocasião: “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação”. (KARDEC, 1993b, p. 223).
Sabemos que o Codificador afirmou que “a verdadeira mediunidade supõe a intervenção direta de um Espírito” (KARDEC, 2006a, p. 142) o que viria a contradizer, em parte, o que estamos propondo; entretanto, se ampliarmos, nessa frase, o significado de Espírito para considerá-lo em qualquer situação, ou seja, encarnado ou desencarnado, ela se ajustaria plenamente ao conceito sugerido em nossa hipótese.
Especificamente, a quem poderíamos qualificar como médium? Para elucidar isso, leiamos:
[...] Quem está apto para receber ou transmitir as comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, médium, qualquer que seja o modo empregado ou o grau de desenvolvimento da faculdade, desde a simples influência oculta até a produção dos mais insólitos fenômenos. Todavia, em seu uso ordinário, essa palavra tem uma acepção mais restrita, e se diz, geralmente, de pessoas dotadas de um poder mediúnico muito grande, seja para produzir efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra. (KARDEC, 1993a, p. 29). (grifo nosso).
Temos aqui então duas situações, com as quais iremos entender o seu significado: uma no sentido amplo e outra no sentido restrito. No sentido amplo, todos somos médiuns e no sentido restrito, somente aqueles nos quais essa faculdade é evidente, a ponto de produzir os fenômenos de efeitos físicos ou de transmitir o pensamento dos Espíritos. Isso fica mais claro quando, por dois momentos, Kardec volta novamente a esse assunto:
Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.
Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira. [...] (KARDEC, 2006a, p. 139) (grifo nosso).
Toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Essa faculdade é inerente ao homem, e, por conseguinte, não é, de nenhum modo, um privilégio exclusivo: também há poucos nos quais não se lhe encontra algum rudimento. Pode-se, pois, dizer que todo o mundo, com pequena diferença, é médium; todavia, no uso, essa qualificação não se aplica senão naqueles nos quais a faculdade mediúnica se manifesta por efeitos ostensivos de uma certa intensidade. (KARDEC, 2006c, p. 62) (grifo nosso).
Primeiramente, cumpre-nos informar que a primeira citação consta de O Livro dos Médiuns, publicado em Janeiro de 1861, que veio em substituição ao livro Instrução Prática sobre as manifestações dos Espíritos, cuja publicação aconteceu no 1º semestre de 1858, obra na qual a encontramos nos seguintes termos:
Toda pessoa que sofre de alguma maneira a influência dos Espíritos é, por isso mesmo, médium. Esta faculdade é inerente ao homem e, por conseguinte, não é um privilégio exclusivo. Por essa razão raros são os indivíduos nos quais não se encontram ainda que simples rudimentos de mediunidade. Pode-se, pois, dizer que todas ou quase todas as pessoas são médiuns. Todavia, no uso corrente, esta qualificação não se aplica senão àqueles nas quais a faculdade mediúnica é nitidamente caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que depende, então, de uma organização mais ou menos sensitiva. É preciso notar, além disto, que esta faculdade não se revela em todas as pessoas da mesma maneira. (KARDEC, 1986, p. 251) (grifo nosso).
Nosso objetivo em colocar isso, foi para ressaltar que Kardec, em sua nova fala, ao invés de dizer “todas ou quase todas as pessoas são médiuns”, passou a afirmar que “todos são mais ou menos médiuns”, demonstrando agora que a variação se prende apenas a seu grau, caso não estejamos enganados em nossa maneira de perceber.
Nesse mesmo ano de 1858, talvez um pouco antes dessa publicação, que acabamos de citar, ele afirmara:
Essa faculdade, como, aliás, já o dissemos, não é um privilégio exclusivo; ela existe em estado latente, e em diversos graus, numa multidão de indivíduos, não esperando senão uma ocasião para se desenvolver; o princípio está em nós pelo próprio efeito da nossa organização; está na Natureza; todos nós temo-lo em germe, e não está longe o dia em que veremos os médiuns surgirem de todos os pontos, no nosso meio, em nossas famílias, no pobre como no rico, a fim de que a verdade seja conhecida por todos, porque, segundo o que nos está anunciado, é uma nova era, uma nova fase que começa para a Humanidade. A evidência e a vulgarização dos fenômenos espíritas darão um novo curso às ideias morais, como o vapor deu um novo curso à indústria. (KARDEC, 2001a, p. 60-61). (grifo nosso).
Aqui, nos parece, que se tem, no mínimo, a todos nós como médiuns em potencial, relacionando a mediunidade como sendo uma característica própria da Natureza humana.
Percebemos que Kardec foi claro ao dizer que é uma faculdade inerente ao homem, sem qualquer tipo de privilégio, concluindo, conforme consta em Obras Póstumas e O Livro dos Médiuns, pela ordem, que “todo o mundo, com pequena diferença, é médium” ou que “todos são mais ou menos médiuns”, porquanto, segundo ele nos diz, todos nós recebemos influência dos espíritos, o que veremos um pouquinho mais à frente, quando citarmos O Livro dos Espíritos. É bem provável que, em virtude disso, possamos ver a aplicação do que ele havia dito na Introdução de O Livro dos Médiuns: “Embora cada qual já traga em si mesmo os germes das qualidades necessárias, essas qualidades se apresentam em graus diversos, e o seu desenvolvimento depende de causas estranhas à vontade humana” (KARDEC, 2006a, p. 10) e o que consta logo acima.
Essa visão abrangente é também o que poderemos encontrar em Channing, que, numa mensagem discorrendo sobre os médiuns, disse:
Todos os homens são médiuns. Todos têm um Espírito que os dirige para o bem, quando eles sabem escutá-lo. Quer alguns se comuniquem diretamente com ele, graças a uma mediunidade especial, quer outros só o escutem pela voz interna do coração e da mente. Isso pouco importa, pois é sempre o mesmo Espírito familiar que os acompanha. Chamai-o Espírito, razão, inteligência, será sempre uma voz que responde à vossa alma, dizendo-vos boas palavras. Acontece, porém, que nem sempre as compreendeis. [...] Ouvi pois essa voz interior, esse bom gênio que vos fala sem cessar, e chegareis progressivamente a ouvir o vosso anjo guardião que vos estende a mão do alto do céu. Repito, a voz íntima que fala ao coração é a dos bons Espíritos bons. E é desse ponto de vista que todos os homens são médiuns. (KARDEC, 2006a, p. 331-332) (grifo nosso).
Esse Espírito considera a todos nós como sendo médiuns; dando, aos que o são de forma

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