terça-feira, 6 de agosto de 2013

que é materia psi. espiritismo!

  Doutrina Espírita

A propósito da matéria psi


1. Introdução

O livro brasileiro mais conhecido escrito sobre o assunto é "Psi-Quântico", de Hernani Guimarães Andrade [1]. O texto trata da aplicação de algumas idéias qualitativas da Mecânica Quântica para o que seria a "matéria psi", ou a matéria de que são constituídas as entidades no plano espiritual. O autor constrói de forma qualitativa uma extensão de alguns conceitos quânticos da física atômica à matéria espiritual, sem contudo chegar a formular uma teoria completa, a exemplo da existente na Física para a matéria comum. A publicação deste livro foi sem dúvida um grande primeiro passo na direção da compreensão da matéria espiritual, fundamental para melhorarmos nosso entendimento da relação entre os níveis material e espiritual, assim como o funcionamento do acoplamento de nossa alma com nosso próprio corpo físico.

2. Embasamento experimental

O autor relata detalhadamente uma série de interessantes experimentos realizados no final do século passado e início deste, que dão suporte às hipóteses que formulará sobre a matéria psi. A seguir apresentamos um pequeno resumo de dois dos principais experimentos.
  1. As experiências de Zöllner em 1877 [2], com nós em tiras de couro e moedas em caixas fechadas, levaram à hipótese de um hiperespaço 4D ( de quatro dimensões) onde estaria a matéria psi. Zöllner postula que o aquecimento observado nos objetos transportados deve-se ao fato de que o transporte de corpos pela quarta dimensão "obriga-os a atravessar fortes campos de uma determinada natureza". Vide nota no item 13.
  2. Bozzano (1862-1943) também realizou uma série de experiências de transportes de objetos, dando suporte à idéia do hiperespaço. O espírito mentor nas experiências de Bozzano [3] colocou que para o transporte de objetos pequenos os mesmos são desmaterializados, transportados e materializados novamente, já no transporte de objetos grandes, quem sofre a desmaterialização é uma região nas portas e/ou paredes por onde atravessam. Bozzano e os espíritos envolvidos informam que no transporte de uma planta ( lírio ) vinda de outro lugar do planeta ( do Egito para os EUA ), esta já estava no recinto pelo menos uma hora antes da materialização. No processo de materialização a planta foi "crescendo" e na desmaterialização desapareceu "instantaneamente". No espaço psi, "paralelo ao nosso", o modelo organizador do lírio estava pronto para a reestruturação do mesmo.
Após o relato e discussão das várias experiências é apresentada então a hipótese básica: nossa realidade 3D (de 3 dimensões) é um universo paralelo ou sub-espaço de uma realidade 4D (de 4 dimensões) da matéria psi. Somos seres 4D temporariamente acoplados a uma realidade 3D. Embora Martiny seja citado no livro como postulando um espaço 5D para a matéria psi (numa referência de 1955 [4] ) o autor mantém a hipótese 4D.
Considerando a Teoria da Relatividade de Einstein [5], sabemos que o mundo físico que conhecemos precisa de uma descrição quadrivetorial ou seja, a realidade física da matéria comum já é (pelo menos) um espaço 4D ( 3D espaciais e 1D temporal, na Teoria da Relatividade Restrita ). Desta maneira, o correto seria postular para o hiperespaço da matéria psi pelo menos uma dimensão a mais, ou seja, caracterizá-lo como espaço 5D. De toda forma, esta questão não invalida os aspectos mais importantes da proposta exposta pelo autor.
Para entender melhor (e sem equações matemáticas) as características físicas de dois espaços com uma dimensão de diferença entre eles, por exemplo um mundo 2D e um 3D, vide o romance "A Terra dos Achatados" [6].

3. Hipóteses básicas formuladas por Hernani

  1. A matéria psi é constituída de ondas e corpúsculos da mesma maneira que a matéria comum".
Comentário: a matéria comum é constituída de blocos elementares que apresentam propriedades de onda e de partícula ao mesmo tempo, sendo descritas por uma função de onda. Apenas nas situações mais usuais do cotidiano é que parecem ter caráter apenas de partícula ou de onda (dependendo do caso) e obedecendo às leis da física clássica. Já que irá se aplicar os conceitos da mecânica quântica ao modelo da matéria psi, é importante que inclusive o modelo para a matéria comum esteja claro e de acordo com as teorias atuais.[a]
  1. "Como a matéria comum tem composição quântica, então a matéria psi também, daí o nome do livro".
Comentário: a matéria comum apresenta algumas propriedades que só puderam ser entendidas (até agora ...) através da Mecânica Quântica [6], como sendo a teoria capaz de descrever as interações na natureza a nível microscópico. Não se pode dizer que a matéria tenha "composição quântica ou clássica".
  1. "Como a nossa matéria está organizada num espaço de 3 dimensões, então a matéria psi está organizada num espaço de 4 dimensões".
Comentário: como já colocado antes, a física moderna, após a Teoria da Relatividade Especial ou Restrita, já vem utilizando um espaço de 4 dimensões para descrever os eventos de nosso plano físico; para poder explicar os fenômenos ditos "paranormais", a matéria psi deve, portanto, existir num espaço com um número maior de dimensões, no mínimo cinco, de maneira a explicar, por exemplo, as desmaterializações e materializações à distância.

4. O psi-átomo de Hernani

É apresentado o modelo atômico de Bohr [7], numa visão mecanicista clássica, apenas adicionando-se o conceito de quantum (ou de quantização) da energia. As partículas prótons, nêutrons e elétrons são tratadas como elementares. Embora este tipo de exposição do modelo não comprometa o objetivo básico do autor, é importante lembrar que, desde a década de 30, com a descoberta de outras partículas (ditas então elementares) e mais recentemente com os quarks, não se pode mais considerar prótons e nêutrons como partículas elementares. Sem dúvida é muito difícil fazer visualizar o átomo como descrito pela mecânica quântica, porém a visão "planetária" do átomo deve ser usada com muito cuidado, por não ser rigorosamente correta. O próprio Max Born falou a respeito da grande dificuldade de se criar imagens de idéias abstratas e da importância destas imagens na didática [8], chamando-as de "ajudas visuais parciais".
Hernani postula então o psi-átomo em analogia com o átomo da matéria comum. O átomo psi seria formado por um núcleo constituído de intelectons ("carga" positiva) e percéptons ("carga" neutra), e de bíons ("carga" negativa) girando ao seu redor. Vide as Figuras 1A e 1B. Como o átomo da matéria comum está num espaço com uma dimensão a menos que o do átomo psi, e a representação bidimensional num desenho já perde por si uma dimensão, o autor apresenta uma ilustração, Figura 2, onde vemos como estes átomos poderiam ser comparados quando vistos da ótica de alguém situado no hiperespaço.
É colocado que o bíon e o elétron geram o Campo Biomagnético, através do qual a matéria comum e a matéria espiritual interagem. O intelecton seria o quantum de consciência-inteligência e o percepton o quantum de percepção-memória. [b]
Apresenta também, para a quantização da energia da matéria psi, uma equação análoga à que usamos na matéria comum:
q = f . h
onde "q" é o "quantum" de energia dos bíons, "f" é a sua freqüência e "h" é a constante de Planck ( 6,625x10-27 erg.s ).
figura 1a
FIGURA 1A - O modelo atômico de Bohr ( pág. 54 da referência [1] ).
figura 1a
FIGURA 1B - A estrutura análoga ao modelo atômico de Bohr proposta para o psi-átomo (pág.108 da referência [1] ).figura 2
A constante de Planck teria o mesmo valor no espaço comum e no hiperespaço? Isto não é cogitado pelo autor e tem conseqüências importantes para o modelo, pois a organização dos níveis de energia na estrutura da matéria psi (conseqüentemente os níveis de vibração e valores das quantidades de energia emitidas ou absorvidas) certamente muda quando muda o valor desta constante. Várias observações de experimentadores espíritas apontam na direção de que no hiperespaço esta constante teria outro valor.
FIGURA 2 - O psi-átomo e o átomo da matéria comum comparados "sob a óptica do hiperespaço" (pág. 109 da referência [1])
Hernani lembra que sua descrição tem suporte na colocação de André Luiz (autor espiritual) , segundo a qual a matéria comum é plasmada pela matéria mental (matéria psi) [ g], a qual tem diferentes padrões vibratórios, seus átomos também são formados por associação de "cargas" positivas e negativas, sendo que as moléculas do perispírito giram em mais alto padrão vibratório, com movimentos mais intensos que as moléculas do corpo carnal [ d].

5. O Campo Biomagnético (CBM)

Uma parte muito importante do livro de Hernani é o relato dos vários trabalhos indicando a natureza eletromagnética (quase eletrostática apenas) dos Campos Biomagnéticos dos seres vivos. É colocado que o CBM (campo vital, ou campo psi e físico, ou biomagnético ) é produzido tanto pelos bíons atuando sobre a matéria, como também pelos elétrons atuando sobre a matéria psi. É afirmado, sem explicações ou justificativas, que o CBM é essencialmente um campo magnético (em contradição com as conclusões dos experimentos relatados sobre a característica quase eletrostática dos mesmos) e que o CBM "segue uma direção normal ao hiperespaço". Na página 135 do livro é colocado que a matéria "esconde" o campo magnético dos orbitais eletrônicos. A matéria não esconde estes campos - eles se cancelam na maioria dos casos. O que não se vê é a componente ou o campo do elétron que atua sobre o bíon. O campo que o autor está procurando é outro, ou, mais provavelmente, uma componente a mais (ainda desconhecida) do campo eletromagnético conhecido.

6. Densidade da matéria psi

Em seguida o autor realiza uma discussão sobre a densidade das matérias normal e a psi. Coloca que a matéria pode polarizar a matéria psi através do CBM dos elétrons, mas que o psi-átomo projetado em 3D (do nosso mundo) é muito maior que o átomo físico. Ele calcula que o corpo astral (perispírito) tem massa de aproximadamente 61,7 gramas, para um volume de 70000 cm3 ( volume de um corpo humano médio no nosso espaço), ou seja, a densidade da matéria psi é de aproximadamente 0,00088g/cm3, que é da ordem da densidade do gás Neon. Assim a densidade da matéria psi é 1,45 vezes menor que a do ar e 9,8 vezes maior que a do Hidrogênio. O corpo astral seria então 1135 vezes mais leve que o corpo físico.
Esse cálculo, no entanto (se as premissas estiverem corretas), é da densidade da matéria psi enquanto projetada no nosso espaço (o volume projetado foi considerado igual ao do corpo físico) e não a densidade da matéria psi no hiperespaço. Entendemos que o valor apresentado para a densidade seja de fato um limite superior para a densidade da matéria espiritual quando projetada no nosso espaço, pois supor que o volume do corpo astral projetado é igual ao do corpo físico contradiz a afirmação de que o átomo psi projetado tem volume maior que o átomo normal. A menos que o número de átomos psi associados ao corpo espiritual seja menor que o número de átomos do corpo material a ele acoplado
Considerando as balanças bastante mais precisas que existem atualmente, seria muito interessante que fossem retomados os experimentos de medir a diferença de massa do corpo humano antes e depois do desencarne, para uma determinação, com análise estatística, da massa do corpo astral e de sua densidade, levando em conta o volume real de cada corpo considerado [e].

7. Formação dos seres

Através do CBM um agrupamento de átomos é capaz de "capturar" um psi-átomo e a ele ficar acoplado. Assim, aglomerados moleculares podem polarizar uma estrutura molecular psi, criando um corpo espiritual rudimentar acoplado, cujo volume projetado em nosso espaço é bem menor que o seu volume no hiperespaço - o corpo espiritual é "reduzido" ao ser acoplado ao corpo físico. Os corpos espirituais podem aprender (através de seus intelectons), guardar informações (através de seus perceptons) e sobreviver à destruição dos aglomerados moleculares de matéria comum. Podem plasmar novos aglomerados na matéria comum através do CBM produzido pelos seus bíons. A matéria psi e a matéria comum ficam então acopladas através da interação mútua do CBM e os corpos assim formados tem propriedades físicas e psi [z].
A biogênese é analisada e entendida por Hernani da seguinte forma:
  • moléculas orgânicas são formadas no "caldo nutritivo" dos oceanos primitivos;
  • estes agregados moleculares "capturam e agregam" moléculas psi e a elas ficam acoplados formando um organismo primitivo com "corpo físico"e "corpo espiritual";
  • as moléculas psi "aprendem" e se organizam de forma cada vez mais complexa, plasmando organismos cada vez mais sofisticados no plano físico [h];
  • esta escalada culmina com os seres superiores atuais, formados de corpos físico e espiritual;
  • a superação do problema da entropia na biogênese é explicada pelo princípio da força organizadora da matéria psi (através do CBM) sobre a matéria comum.
É claro que não se pode pretender que questões delicadas como: quem começou primeiro? - possam ser respondidas por um modelo apenas esboçado e com os poucos conhecimentos de que dispomos. O importante é que tudo faz muito sentido dentro do contexto de uma teoria coerente. Em outro livro de indispensável leitura [9], Hernani desenvolve mais profundamente as idéias da biogênese, tratando do Modelo Organizador Biológico. Naquela obra ele apresenta um diagrama bastante interessante de como este acoplamento corpo físico - corpo espiritual explica a nossa complexa estrutura (Figuras 3 e 4 ).
figura 3
FIGURA 3
Acoplamento entre os corpos físico, perispiritual e espiritual (pág. 56 da referência [9]).
figura 4
FIGURA 4
Campo Biomagnético ( CBM ) e o acoplamento entre os corpos físico, astral e vital ( pág. 67 da referência [9])

8. Na direção de uma teoria

A transformação do modelo qualitativo apresentado por Hernani em uma teoria completa, com capacidade de previsão de efeitos e cálculo das interações, a exemplo da que existe para a matéria comum representa um considerável desafio. Façamos uma prospecção, baseados nas teorias atuais da física.
O tratamento para os bíons deveria ser na direção da já estabelecida equação relativística para os elétrons (de Dirac [10]), ampliada para um espaço com (pelo menos) mais uma dimensão. Especial atenção deverá ser devotada para desenvolver uma "bíon-dinâmica" - o equivalente à eletrodinâmica da matéria comum [11] - e, principalmente, à interação bíon-elétron, chave para se chegar à descrição matemática do CBM, a exemplo do que temos para ondas eletromagnéticas. Certamente ter-se-á que revisitar, agora com ferramental matemático rigoroso e explícito, trabalhos antigos como "Teoria eletrodinâmica da vida" [12] e bem mais recentes sobre a Teoria Holográfica [13].
Por outro lado, para trabalhar as interações entre as partículas psi e formular a estrutura dos átomos psi, seria necessário propor uma equação de Schroedinger [7] generalizada, com uma dimensão a mais da normal, de maneira a poder-se obter, por exemplo, os níveis de energia dos átomos e moléculas psi. Além dos números quânticos já conhecidos para o átomo, dois novos (pelo menos) deveriam ser adicionados, pois as propriedades dos intelectons e perceptons deverão ser quantificadas . Seriam elas quantizadas ou não? O formalismo matemático seria o do tipo usado para tratar o número quântico spin ou o "sabor" dos quarks?
Como sabemos que prótons e nêutrons tem estrutura (ou seja, são formados por quarks), certamente seria natural supor que intelectons e perceptons também tivessem...ou não? Se não tiverem estrutura interna, então a matéria espiritual seria radicalmente diferente, a nível microscópico, da organização da matéria comum, com grandes repercussões a nível de como seria encarado um mundo material mais complexo e elaborado que o espiritual.... Se tiverem estrutura interna, seria necessária uma Cromodinâmica Quântica Generalizada para o hiperespaço e os psi-quarks seriam realmente os tijolos básicos da matéria espiritual, juntamente com os bíons , os psi-fótons (os quanta do CBM) e os psi-neutrinos... Sem dúvida um quadro complexo.
Por outro lado, uma outra hipótese plausível, com base nos fenômenos e comunicações espirituais, é a de um hiper-espaço multidimensional, onde o ser espiritual utilizaria cada vez mais dimensões à medida que evolui e se espiritualiza.
Ou ainda, podemos encarar o próprio universo como uma observável quântica e aí teríamos uma infinidade de universos possíveis, paralelos ao nosso, sendo que o ser espiritual poderia transitar entre eles...
Qualquer destes pontos de partida (existem outros, é claro) representará uma esforço considerável de trabalho de física e matemática, mas certamente muito válido, para prosseguir na trilha aberta por Hernani.
Não podemos deixar de comentar que a Mecânica Quântica oferece um extraordinário ferramental, não somente para o entendimento da matéria [14], mas também da dinâmica da vida, da natureza humana e da consciência, assim como uma base científica para a imortalidade da consciência, como muito bem explorado pela física e filósofa Danah Zohar , em seu livro "O ser quântico" [15]. A autora chama a atenção para o estudo dos condensados de Bose-Einstein em sistemas biológicos, para explicar a consciência. Embora tenha uma visão equivocada ( do ponto de vista espírita ) sobre a questão da alma [16], a discussão por ela apresentada pode ser muito bem aproveitada para uma teoria da interação entre a matéria comum e a matéria espiritual.

9. Na direção de uma fenomenologia

Além de uma esforço teórico, e também para ajudá-lo e orientá-lo, é absolutamente necessário também um suporte de experimentação. Neste caso o ponto de partida nos parece muito claro : investigar o CBM. Um estudo mais detalhado e refinado dos campos eletromagnéticos dos seres vivos, da maneira como estes campos são alterados, por exemplo quando da atuação de uma entidade desencarnada sobre um encarnado, podem nos levar a enfim observar a componente faltante do campo total gerado pelo elétron, que seria exatamente o CBM. Neste caso físicos, biólogos e médicos teriam uma grande contribuição a dar, não somente em experimentos originais, mas também na reanálise de dados de experimentos já realizados com outros objetivos, mas que podem já conter resultados importantes que apenas faltam ser correlacionados quando analisados por uma óptica sem preconceitos e mais ampla. Trabalhos relativamente recentes como os do Energy Research Group [17] ou o relatado nos capítulos 6 e 7 do livro Mãos de Luz [18], podem ser um bom ponto de partida para orientar sobre o tipo de arranjo experimental a ser utilizado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário