segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Gemelaridade e espiritualidade. Dra Giselle Fachetti.

Gemelaridade e espiritualidade. Dra Giselle Fachetti

A Doutrina Espírita nos explica que as famílias terrenas têm uma história pretérita em comum o que é ainda mais evidente no caso dos gêmeos. São espíritos unidos por grande sintonia ou por imensa repulsa.
Segundo a Dra. Carla Franchi Pinto, especialista em gemelogia, várias teorias já foram sugeridas a fim de explicar os mecanismos determinantes da gemelaridade. Fatores ambientais e genéticos foram descritos como predisponentes a esta circunstância obstétrica. A freqüência de nascimentos de gêmeos no Brasil parece estar estabilizada em 8,8 por mil nascimentos. Porém, vem ocorrendo queda do número de dizigóticos e aumento nos monozigóticos.
Os gêmeos são seres unidos não só por sua consangüinidade óbvia, mas por uma longa história de convivência espiritual como encarnados ou desencarnados, fato que é ignorado pela ciência oficial. Geralmente são seres de grande afinidade que encontram nessa oportunidade de reencarne simultâneo um grande suporte para enfrentarem as incertezas em relação às tarefas e objetivos assumidos durante a fase de programação pré-encarnatória.
Existem exceções, os gêmeos Esaú e Jacó, personagens bíblicos, apresentavam forte antagonismo recíproco, provavelmente fruto de graves conflitos em vidas passadas. A história da imprensa nos revela antigas reportagens sobre o caso das gêmeas xifópagas baianas, Nadir e Juracir, que nada tinham de afeto uma pela outra. São exceções que confirmam a regra de afinidade e harmonia habitual entre gêmeos.
Quem imagina que apenas a união dos desafetos seja uma estrada longa de aprendizado, se engana. Aqueles que comungam de grande afinidade estão num processo tão importante de aprendizado quanto os outros, mais suave e terno, sem dúvida, porém não menos árduo.
Por isso, aqui pretendo abordar questões relativas aos gêmeos afins, os quais são sintonizados em suas virtudes e vícios, tendências e fragilidades. Muitas vezes até manifestam seus talentos de forma complementar, independentemente se são mono ou dizigóticos.
A inspiração para esse artigo surgiu quando atendemos, em um trabalho mediúnico assistencial, uma dupla de espíritos “gêmeos” patologicamente unidos por parasitismo recíproco cujo desligamento foi bastante doloroso. Naquela oportunidade fui orientada para redigir este artigo de esclarecimento aproveitando minha experiência pessoal.
Eu e minha querida irmã nascemos de uma mesma gravidez, portanto, somos gêmeas. É pitoresco que o nosso endereço de nascimento seja diferente. Nasci em casa, inesperadamente prematura, 2100g, era um domingo e o almoço estava servido.
Minha irmã, segunda gemelar, apresentou uma procedência de mão, que fez com que meu pai, obstetra experiente, conduzisse minha mãe ao hospital mais próximo. Eles foram em busca de uma analgesia para facilitar as manobras obstétricas que se impunham no caso. O meio de transporte era um robusto jipe.
Logo que eles chegaram ao hospital ela nasceu, sem qualquer manobra extrativa, vinte e cinco minutos depois do meu parto, 2200g. O sacolejar do Jipe corrigiu sua apresentação. Eu havia ficado em casa, mamando a ponta de uma toalha, sob os olhares de minha querida madrinha.
Meus pais e a Dinda ainda tiveram que nos auxiliar em nossa luta pela sobrevivência por cerca de três meses. Não havia UTI neonatal, nem energia elétrica e era inverno rigoroso no norte do Paraná. Sobrevivemos, as duas, tanto que aqui comento diretamente (e não por psicografia) nossa experiência em comum.
Somos dizigóticas, portanto, diferentes fisicamente. Temos temperamentos, gostos e talentos, também, diferentes. É um verdadeiro privilégio, uma oportunidade abençoada, reencarnar ao lado de um ente querido e desenvolver-se contemporânea e proximamente a ele. Já nascemos contando com um amigo para todos os instantes.
Mas a gemelaridade fez com que a nossa convivência compulsória e constante nos tornasse muito ligadas, talvez mais do que o que seria o ideal. Essa intensa conexão se presta a ensinar as lições compatíveis com esta existência peculiar, entre elas ressaltamos o compartilhar e o confiar. O que efetivamente aprendemos logo, ainda na primeira infância.
Havia uma cumplicidade e uma complementaridade que chegava a nos levar a estripulias que julgávamos inocentes. Burlarmos regras de esforço individual para o aprendizado escolar padrão. Confesso que redigia as minhas redações e as da Thais. Ela fazia meus deveres de matemática e física. Algumas vezes chegamos a nos dar cola em provas. Era inevitável, sentávamos na mesma carteira dupla (gêmeas?) de uma escola de arquitetura antiga.
Todo privilégio pode e deve ser um meio de acelerar o desenvolvimento espiritual, entretanto se não respeitarmos limites saudáveis dessa convivência íntima e prolongada, esse suposto benefício pode transformar-se em um grave impedimento para a descoberta e aperfeiçoamento da individualidade dos gêmeos.
Uma simbiose profunda pode tornar esses irmãos tão interdependentes que não sobrevivam, emocional ou fisicamente, isolados. Os gêmeos xifópagos representam o extremo da dependência física. Em relação à dependência emocional, muito mais freqüente, é carente de exemplos específicos, pois é comumente dissimulada de forma consciente ou não, tanto pelos próprios gêmeos quanto pelos familiares.
Minha irmã era mais segura de si e tinha grande autoridade sobre mim. Demorei a libertar-me dessa submissão. A completude e o conforto que sentíamos reciprocamente, dava-nos a impressão de auto-suficiência isolando-nos, relativamente, da comunidade altamente interativa ao nosso redor. A timidez comprometeu a nós duas já que não necessitávamos de companhias novas. Apenas pessoas muito seletas eram admitidas em nosso clubinho particular de duas sócias.
Começamos a desenvolver a tão necessária autonomia já na adolescência, fenômeno que creio ocorrer bem antes com os solitários. A Universidade propiciou o fechamento definitivo da fase de interdependência exagerada.
Nossos caminhos se separaram um pouco, passamos a desfrutar de um relacionamento fraternal quase que comum aos irmãos que se querem bem. Mas esse processo de separação gradual foi penoso, pelo menos para mim, e a conquista da individualidade um troféu que achei que soubesse reconhecer o valor. 

Mas quando me deparei com o grau de ligação energética entre os gêmeos que foram atendidos em nosso trabalho mediúnico é que tomei consciência da importância que o nosso esforço em desenvolver-nos separadamente teve.
Muitas vezes são descritos em fontes espíritas as explicações de ordem espiritual para a ocorrência dos gêmeos acolados ou xifópagos. A justificativa é a intensa fixação mental recíproca. Acredito, porém, que esse processo ocorre mesmo em casos de ligação de afeto e não apenas nas de ódio, rancor e culpa.
O equilíbrio é necessário inclusive no modo e na intensidade de expressarmos o amor verdadeiro. Sabemos que esse sentimento em sua forma mais pura e elevada, a forma ágape, não busca os seus próprios interesses. Assim o exercício do amor equilibrado trará o esperado apoio entre os gêmeos permitindo que o processo de individuação se faça plenamente.
Individuação é definida por Ermance Dufaux como o descobrir de nossa singularidade integrando-nos com o próximo, a vida e a natureza. Orienta-nos ela, que esse processo só é possível quando acolhemos a “sombra” do inconsciente com os “braços” do ego entregando-a a “inteligência espiritual” do self, para transformá-la em luz e erguimento conforme as aspirações do Espírito.
Essa visão deve ser compartilhada com os pais dos gêmeos que muitas vezes colaboram e estimulam a dependência entre eles confundindo-a com afeto, afinidade e companheirismo salutar. O estímulo á convivência com outras crianças, o estímulo a ocasionais atividades lúdicas e educativas em separado, o respeito às diferenças de talentos e preferências, assim como a redução das expectativas em relação a resultados e atitudes semelhantes são alguns dos objetivos de ação a serem propostos aos pais dos gêmeos.
Outra atitude importante é a abolição de comparações de comportamentos nos momentos em que a correção é imperativa. A opção pelo certo não deve ser baseada na correção e adequação do irmão, mas sim no fato de ser a forma correta de agir, simplesmente assim.
A meta é evitarmos que eles cresçam com expectativas irreais de partilharem toda a sua existência conforme o fizeram na infância. Dessa forma suportarão mais bravamente a dor que o outro venha a sofrer. Pois que eles (nós), de forma similar aos pais em relação a seus filhos, parecem sentir menos sua própria dor do que a dor de seu mais do que fraterno irmão. Eles então tomarão da vida o que ela lhe der e o que ele individualmente fizer por conquistar, sem que a culpa em relação ás diferenças de destino (culpa essa fruto de uma fantasia infantil mal elaborada), os façam boicotar a felicidade que não encontra reflexo em seu parceiro de caminhada espiritual.
Aqueles irmãos, que em nosso atendimento no Centro Espírita foram vistos como um verdadeiro amálgama humano possivelmente estariam livres para o progresso pleno, em um período de tempo menor e com menor desgaste energético, se tivessem tido um acolhimento encarnatório em um ambiente com acesso aos esclarecimentos de que dispomos agora.
Estamos certos que eles, em sua próxima encarnação, obterão a individuação que necessitam com a benção do Mestre Jesus, nosso eterno auxiliar. Rogamos a Deus por todos os irmãos presos às ilusões da dor e do desencanto na certeza que serão atendidos por sua misericórdia assim como nós temos sido atendidos por essa mesma misericórdia em nossas fraquezas e limites.

Giselle Fachetti Machado.

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