segunda-feira, 21 de setembro de 2015

JOANNA DE ANGELIS RESPONDE - PARTE II

JOANNA DE ANGELIS RESPONDE - PARTE II

1) Como o trabalhador espírita pode adentrar os temas psicológicos nas atividades da Casa Espírita sem resvalar em uma suposta psicoterapia?
O estudo do Espiritismo, de alguma forma, é também do conhecimento psicológico, porquanto diz respeito à transformação moral do indivíduo para melhor, para tornar-se vencedor das paixões primárias cm favor das emoções superiores da vida.

Os estudos da Psicologia Espírita constituem uma contribuição para mais amplo entendimento da codificação kardequiana, por aprofundar a sonda do esclarecimento nos conflitos que vicejam em todas as criaturas, auxiliando-as com métodos eficazes para solucioná-los, não atribuindo rodas as ocorrências perturbadoras às influências espirituais negativas, mas, sim, aos próprios demônios, aqueles que as acompanham através das sucessivas reencarnações e formam o ego perverso ou sonhador, dinâmico ou preguiçoso, alegre ou angustiado...

Inevitavelmente, à medida que o ser estuda e se estuda, melhora-se, realizando uma autopsicoterapia, por eleger o bem em vez da perturbação e dos sentimentos inferiores.

2) Se a Espiritualidade superior tem oferecido ao Movimento Espírita inigualáveis conhecimentos a respeito dos transtornos mentais como depressão, bipolaridade, esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo, suicídio, etc., seria correto pensar que estes estudos são direcionados apenas aos espíritas profissionais da saúde mental, ou esse legado deveria ter correlação para a sociedade atual?
A revelação dos imortais não é dirigida exclusivamente àqueles que se tornam espíritas, mas a todos os indivíduos, a fim de que possam conhecer os mecanismos que movimentam a existência, a finalidade psicológica do existir, como superar as más inclinações e alcançar a individuação, a plenitude.

Devem esses estudos ser introduzidos nos programas doutrinários da sociedade que se dedica à vivência dos postulados espíritas, e não exclusivos para os profissionais da saúde mental. Esses conhecedores estarão mais bem equipados para fazerem a ponte doutrinária entre as elucidações psicológicas e as espíritas.

Essas notáveis informações a respeito dos problemas emocionais e psiquiátricos que tantos prejuízos causam à sociedade, à luz do Espiritismo tornam-se mais facilmente compreendidas e de equação mais fácil, ao entender-se que a vida humana vai além dos limites berço-túmulo, sendo única, porém, manifestada em diferentes jornadas físicas ou reencarnações. Com esse conhecimento, identificam-se os melhores processos para a construção da felicidade, por elucidar que a cada qual cabe a tarefa de eleger o melhor para si, de modo que logre a paz, ao contrário do uso do livre-arbítrio, que somente conduz aos prazeres egoicos geradores de perturbação e de sofrimento.
3) Existe uma necessidade crescente dos estudos sobre as emoções na Casa Espírita? Eso tem relação com a educação moral, ou como diz Kardec, a arte de formar os caracteres?
A sociedade espírita é, antes de tudo, uma escola para a educação das almas.

Inicialmente, tem por meta o estudo da Codificação Espírita, a fim de instruir os seus adeptos em torno dos objetivos doutrinários e do comportamento que conduz à saúde integral.

Como as emoções fazem parte do programa de educação pessoal, é natural que um estudo cuidadoso em torno delas e dos melhores métodos para canaliza-las ae maneira edificante, sejam propostos na programação da formação do caráter do homem e da mulher de bem, a fim de aprenderem a agir com sabedoria ante os desafios, em vez de reagir um pelos impulsos do automatismo primário que resulta das emoções básicas não disciplinadas, gerando complicações mais graves.

Esses estudos, dessa forma, fazem parte do programa de educação moral, formador do caráter.

4) Muitas pessoas acreditam que as feridas que carregamos e as que provocamos são decorrentes do carma ou destino. E isso é verdadeiro ou só estamos fugindo da responsabilidade de corrigirmos as nossas mazelas?
Existem, sim, heranças perversas que provêm do passado, cobrando recuperação e reequilíbrio. Nada obstante, muitos males que afligem os seres humanos são frutos da invigilância atual e da irresponsabilidade com que enfrentam situações que merecem exame e reflexão para melhor comportamento.

A conquista da autoconsciência enriquece o indivíduo com responsabilidade e sabedoria para fazer agora o que pode e deve, sem postergações nem ansiedades, no ritmo que a própria existência propõe, corrigindo as mazelas que identifica no comportamento, sem traumas nem remorsos, porque fazem parte do processo evolutivo, sempre desafiador. Muitas cicatrizes morais são feridas anteriores do desleixo para com a própria realidade, sem a disposição do enfrentamento que fortalece o caráter e proporciona saúde emocional para todos os embates.

5) Existe um padrão espiritual para explicar o expressivo número de diagnósticos de hiperatividade e déficit de atenção?
Vive-se a era da ansiedade, dos comportamentos agressivos, das insatisfações, das lutas internas e externas, o que influi vigorosamente na formação do feto, que se permite assinalar pelas perturbações ambientais e as que assinalam os genitores em cujo seio se desenvolve, especialmente no materno.

O estresse derivado da ansiedade materna, o desgosto pela gestação, a preocupação exagerada em cercar de artefatos eletrônicos e futilidades o filho em desenvolvimento, as inquietações durante a gestação, a conduta mental instável e irritadiça, as contrariedades contínuas são assimilados pelo Espírito, em evolução no corpo, gerando esses distúrbios que se tornam pandêmicos.

No sentido oposto, a serenidade e o hábito da oração, a afetividade equilibrada ante o júbilo da maternidade, oferecem hormônios de paz e de bem-estar - oxitocina - ao ser que se asserena e dispõe-se a contribuir positivamente em favor da plenitude.

Simultaneamente, as heranças espirituais de cada ser reencarnante respondem pela preponderância da saúde ou dos distúrbios que irão assinalar a existência do ser em desenvolvimento, adstrito ao programa da Lei de Causa e de Efeito.
6) O autismo pode ser entendido como uma dificuldade do Espírito em enfrentar sua encarnação? Como auxiliar nesses casos?
O Espírito, estando lúcido e conhecendo a gravidade dos erros praticados, expia ou submete-se a rudes provas, a fim de esconder-se daqueles a quem prejudicou e agora reaparecem na condição de cobradores insanos. Trata-se de um mecanismo utilizado também para apagar as lembranças que ressumam do seu inconsciente e o atormentam. Nada obstante, experimentando as dificuldades de comunicação com o exterior, não fica indene ao sofrimento que carrega no imo do ser, embora não logre fazer uma catarse libertadora e terapêutica.

A conversação edificante, a paciência e a bondade para com o autista, em qualquer grau em que a problemática se apresente, os passes de transmissão de energias, as atividades de desobsessão, porque invariavelmente ocorrem também esses fenômenos, são os melhores instrumentos de auxílio em seu benefício.

Até os 7 ou 8 anos de idade, quase sempre a reencarnação prossegue e completa-se totalmente.

Recomenda-se que, enquanto a criança esteja dormindo, os genitores conversem com ternura, explicando-lhe quanto é amada, como foi esperada com carinho, quão maravilhosa é a oportunidade de que ora desfruta, a fim de transmitir-lhe tranquilidade e confiança.

O Espírito escuta, percebe os cuidados, renova-se e imprime no organismo, especialmente na área cerebral afetada, a esperança, a alegria e a mensagem de otimismo, passando a experimentar resultados positivos e saudáveis.

7) Verificamos que são constantes as feridas da infância, fazendo com que muitos se detenham nas limitações do que não tiveram ou nas mágoas decorrentes dos maus tratos e/ou da negligência familiar. Consciente dessas feridas, qual a melhor forma de se libertar delas?
A infância, especialmente no ser humano, é a mais longa do reino animal, a fim de que sejam formados a personalidade, o conhecimento, a consciência e a individualidade. As marcas psicológicas das ações vivenciadas nesse período imprimem-se de maneira vigorosa nas áreas da emoção, e dão lugar às feridas dilaceradoras que culminam em transtornos vários e angústias inomináveis. Tudo quanto se semeia na infância, desenvolve-se, cresce e liberta ou aprisiona o aprendiz.

Conscientizar o jovem a respeito das malévolas influências de que foi objeto, contribui eficazmente para a mudança do comportamento emocional, desde que acompanhada por uma psicoterapia adequada, capaz de proporcionar a libertação de toda a vasa de amargura e desamor, até poder assimilar, pela lógica e pelos fatos, que é amada, que merece ser feliz, que renasceu para conquistar a plenitude sempre ao alcance de quem realmente a deseja.

8) Existem alguns movimentos sociais e psicológicos que procuram entender os transgêneros como um terceiro sexo, sem ter que definir-se entre homem e mulher, ou propõem uma identidade de gênero para diferenciar de uma identidade sexual. E' o caso da Austrália, que já possui em seus passaportes uma terceira opção sexual marcado pela letra "X". Podemos entender esse processo como uma mudança necessária que está acontecendo para uma nova condição humana ou trata-se de uma patologia?


A questão é muito delicada e exige reflexões morais e legais muito profundas, que não nos atrevemos a considerar.

O quesito essencial na análise da pergunta é a de natureza moral e comportamental do transgênero.

As soberanas Leis da Vida estabelecem em todas as áreas do comportamento humano saudáveis diretrizes para a preservação da consciência de paz. A culpa defluente das atitudes mascaradas de correras, que mais tarde se diluem, torna-se vigoroso algoz do infrator, levando-o a situações graves que podem culminar no autocídio, como fuga dolorosa do sofrimento interno que lhe é imposto.

O fato de ser reconhecido um terceiro sexo no ser humano - como em alguns animais - não libera o indivíduo para experienciar uma vida promíscua, a variação de parceiros, as condutas esdrúxulas, as chamativas de atenção, as caricaturas ridículas e/ou pervertidas.

Na área do Espírito, cada um dá conta da sua administração, conforme acentuava o apóstolo Paulo em relação a outro tipo de comportamento.

O individuo, como Espírito encarnado, vivência experiências variadas e o transgênero é uma delas que, felizmente, já recebe respeito e consideração, inclusive das autoridades legais e da saúde, ao retirá-la do velho e intolerante catálogo das patologias perseguidas e detestadas, embora experienciadas.

De forma alguma consideramos o novo passo como uma anuência a algo patológico, mas como indispensável consideração a indivíduos masculinos e femininos dignos e respeitáveis, que antes se viam obrigados pela ignorância e pelo preconceito a refugiar-se nas sombras e mergulhar nas inimagináveis aflições interiores.

Com essa resolução reconhece-se uma condição humana que sempre existiu, à qual se conferem direitos legais e morais, assim como deveres perante si mesmos, a própria consciência e a sociedade na qual se encontram.
9) Como podemos entender os massacres cada vez mais comuns, nos quais os jovens atacam com tanta violência os demais grupos, especialmente em escolas?

São muitos os fatores predisponentes e preponderantes na análise da questão. De início, trata-se de Espíritos agressivos, primários, no processo da evolução, ainda mais vinculados aos instintos primitivos do que aos sentimentos elevados.

Demais, a falência da educação moral e familial, do atendimento doméstico mediante os valiosos recursos da afetividade saudável, das orientações básicas de respeito à vida em todas as suas expressões e da superação dos vícios de qualquer natureza. Por fim, em razão do desvario dos veículos de informação de massas, das rápidas e insensatas redes de comunicação social, que mais se preocupam com as deformidades, as excentricidades das ocorrências, do que com os valores éticos e edificantes que devem viger nos quadros do comportamento humano, o sentido da vida desce a níveis jamais experienciados em outras épocas da História.

À educação moral, àquela que se adquire pelos exemplos - como asseverou Allan Kardec — cabe o papel de aniquilar a crueldade e o materialismo. (*) 11
10) Qual o prejuízo psíquico e espiritual que podemos ter ao abrirmos mão da realização da nossa jornada heróica?
Quando alguém se escusa, conscientemente ou não do processo de autoiluminação, descerra a cortina do atraso que o caracteriza, para vivenciar o primarismo das sensações iniciais, distante dos sentimentos elevados que edificam o ser. A jornada heróica é o propósito do Arquétipo primordial, ou Deus, desde os primórdios da Criação.

A existência não teria sentido se não houvesse a fatalidade da plenitude que a todos aguarda e que se encontra adormecida no cerne de cada ser, razão pela qual a busca de significado psicológico deve apresentar-se desde cedo, criando hábitos saudáveis de realização e de vivência.

A negação desse princípio de evolução retarda a marcha de ascensão do Self, que fica subordinado à sombra daninha do ego, até o momento quando o sofrimento rompe a densa ignorancia e harmoniza o eixo que une os dois arquétipos.

Nesse não querer realizar-se, estão embutidos os tormentos e conflitos ancestrais que ora se apresentam em distonia com a realidade, abrindo espaço aos sofrimentos desnecessários, porque de escolha pessoal.

É necessário todo o empenho na execução da jornada heroica. Na Mitologia, vemos a luta de Perseu para matar a Medusa e libertar sua genitora, e, consequentemente, seu povo, da perversidade do governante cruel.

Todos devem enfrentar as suas medusa*, seus medos, seus demônios íntimos, pois que de tais lutas contínuas resultarão as indescritíveis realizações interiores da paz e da auroiluminação.
11) A violência hoje responde por uma infinidade de medos e ansiedades. Mas, a ameaça externa é realmente maior que as ameaças internas?
A violência externa é o fruto espúrio da interior, da agressividade que acompanha o ser humano no seu processo antropológico e ainda não ultrapassado pelas nobres conquistas da razão e do sentimento de solidariedade.

Essa violência embutida no inconsciente, que explode por qualquer motivo ou mesmo sem ele, é a exteriorização de medos e de ansiedades mal sopitadas.

Quando o autoconhecimento assume o comando das atitudes, o ser humano pensa antes de agir e o faz com serenidade mesmo sob as altas doses da adrenalina derramada pelas glândulas suprarrenais na corrente sanguínea, que lhe produzem a ira, a violência, acalmando-se com as doses do cortisol que, de imediato, também lhe percorrem todo o sistema irrigador de energia.

Invariavelmente, em mecanismo de autodefesa, agride-se por medo de ser-se agredido, reage-se, ao invés de tomar-se medidas cautelosas de ações pensadas, aumentando o circuito da violência.

Assim considerando, é urgente a necessidade do enfrentamento racional dos medos, das ansiedades mal-administradas, esses verdadeiros demônios que desgastam e desarmonizam a criatura e, por extensão, a sociedade.

Nesse sentido, o autoamor desempenha papel de relevância inimaginável...
12) Quais são os maiores obstáculos para que o desenvolvimento da personalidade ocorra em sintonia com o nosso Eu Profundo ou Self?
O Eu Profundo é o somatório das experiências reencarnacionistas, por cujo processo antropossociopsicológico adquire conhecimentos e desenvolve sentimentos.

Criado, simples e ignorante, desenvolve as aptidões adormecidas em germe, a fim de vivenciar os desafios que desvelam a sua origem transcendental.

Herdeiro de si mesmo, lapida, em cada oportunidade, as anfractuosidades do primarismo, sutiliza as emoções, trabalha as sensações e os instintos predominantes, tanto quanto disciplina as funções, a fim de que o conjunto - Self psicossoma e soma - funcionem em perfeita harmonia sob o comando da consciência.

Ao adquirir a consciência lúcida, superado o nível de sono, descobre as fixações da sombra que já se lhe instala, algo dominadora, enquanto constrói o ego, a persona que dissimula a realidade.

É todo um esforço contínuo dos valores éticos assimilados, que diluem a máscara e facultam a perfeita identidade do eixo ego—Self, quando supera a sombra e conquista a individuação, o estado numinoso.

" (*) Comentários de Allan Kardec, na resposta à questão 685 de O Livro dos Espíritos, Nota da Autora espiritual.

JOANNA DE ÂNGELIS

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